quinta-feira, 24 de novembro de 2016

OS BRANCOS DOS MONTES APALACHES




(Foi o Público que me trouxe a este livro, ainda bem, uma leitura fundamental para compreender a ira dos homens brancos que por terras do Ohio e proximidades deram a vitória a Trump…)

The Hillbilly Elegy – a Memoir of a Family and Culture in Crisis” de J. D. Vance é um livro fascinante, não um estudo sociológico ou académico, mas o testemunho de um graduado por Yale que conseguiu escapar à pobreza endémica que se instalou pela região dos Apalaches nos EUA, a partir da segunda metade do século anterior e sucessivamente agravada até aos nossos dias. Traduzo livremente Hillbillies por habitantes dos montes ou morros dos Apalaches e nunca me confrontei com uma tão profunda identidade entre uma geografia e a autodesignação dos seus habitantes.

Foi o Público de há alguns dias que me colocou no confronto desta obra com uma obra, mais intimidante pela dimensão – White Trash – The 400 –Year Untold History of Class in America de Nancy Isenberg, que aguarda melhores dias numa secretária cada vez mais caótica.

O tema é conhecido e antecipável. Os americanos e sobretudo as suas elites intelectuais andaram distraídos e não terão dado a devida atenção à progressiva degradação das perspetivas de vida de uma massa enorme de homens brancos que desde muito novos mergulharam numa trajetória de sem esperança, reproduzindo essa situação por diferentes gerações. O testemunho na primeira pessoa de Vance é um misto assombroso de ternura pelas origens e uma descrição implacável das vias para o esquecimento, marginalização, todas as formas possíveis de dependência. Fazem-se hoje poucos livros desta dimensão, quase monográfica, uma espécie de mergulho retrospetivo que nos oferece seguindo uma família e sobretudo levantando a interrogação do porquê da sua libertação até à Yale Law School.

Os quatro primeiros capítulos aguçaram-me o apetite.

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