(Foi o Público
que me trouxe a este livro, ainda bem, uma leitura fundamental para compreender
a ira dos homens brancos que por terras do Ohio e proximidades deram a vitória a Trump…)
“The Hillbilly Elegy – a Memoir of a
Family and Culture in Crisis” de J. D. Vance é um livro fascinante, não um
estudo sociológico ou académico, mas o testemunho de um graduado por Yale que
conseguiu escapar à pobreza endémica que se instalou pela região dos Apalaches
nos EUA, a partir da segunda metade do século anterior e sucessivamente
agravada até aos nossos dias. Traduzo livremente Hillbillies por habitantes dos montes ou morros dos Apalaches e
nunca me confrontei com uma tão profunda identidade entre uma geografia e a
autodesignação dos seus habitantes.
Foi o Público de há alguns dias que me colocou no confronto desta obra com
uma obra, mais intimidante pela dimensão – White
Trash – The 400 –Year Untold History of Class in America de Nancy Isenberg,
que aguarda melhores dias numa secretária cada vez mais caótica.
O tema é conhecido e antecipável. Os americanos e sobretudo as suas elites
intelectuais andaram distraídos e não terão dado a devida atenção à progressiva
degradação das perspetivas de vida de uma massa enorme de homens brancos que
desde muito novos mergulharam numa trajetória de sem esperança, reproduzindo essa
situação por diferentes gerações. O testemunho na primeira pessoa de Vance é um
misto assombroso de ternura pelas origens e uma descrição implacável das vias
para o esquecimento, marginalização, todas as formas possíveis de dependência. Fazem-se
hoje poucos livros desta dimensão, quase monográfica, uma espécie de mergulho
retrospetivo que nos oferece seguindo uma família e sobretudo levantando a
interrogação do porquê da sua libertação até à Yale Law School.
Os quatro primeiros capítulos aguçaram-me o apetite.
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