(De acordo com o
meu registo destas coisas, que é falível, o Banco Central do Japão terá sido o
primeiro a reconhecer que novas piruetas da política monetária não são mais
possíveis, requerendo que a
política fiscal ocupe o seu lugar …)
Noah Smith tem uma excelente peça no Bloomberg View sobre uma matéria sobre a qual este
blogue tem abundantemente refletido. Os limites da política monetária nos
tempos conturbados de taxas de juro em torno de valores nulos ou negativos é o
tema. O Banco Central do Japão é um excelente caso de estudo, pois é seguramente
aquele que há mais tempo começou a entrar no domínio da heterodoxia de atuação
dos bancos centrais, por força dos problemas de estagnação deflacionária que atingem
a economia japonesa antes da crise de 2007-2008.
A evolução nesta
matéria tem sido apreciável e demolidora. No pré-crise de 2007-2008 o
monetarismo foi levado aos píncaros da intervenção. A turbulência da economia
parecia dominada por regras de política monetária mais ou menos mecânicas, a política
monetária mandava, os bancos centrais eram os senhores da gestão de possíveis turbulências
e isso retirava do sistema a instabilidade de decisão política dos governos
sempre ávidos de manipular a política fiscal em função do ciclo político. Em
alguns manuais de macroeconomia ainda se falava de um mix entre política monetária e política fiscal, mas o vento estava
do lado da pretenda superioridade da política monetária. O primeiro passo para
a destruição deste mito aconteceu com o reconhecimento de que a turbulência não
era afinal tão domesticável como se pensara. A política monetária conseguiu
conter os danos da crise, sobretudo do ponto de vista da sua dimensão temporal,
mas o diabo foi o pós-crise e a recuperação agónica e não sustentada que lhe
sobreveio. A partir daí assistiu-se a uma flexibilidade inesperada da política
monetária, com várias manifestações do “far-se-á o que for necessário” com a
abundância e diversidade do “quantitative
easing” a marcar o passo. Foi a esta flexibilidade que chamei neste blogue
de piruetas da política monetária. Se associarmos a ideia de salto à de pirueta,
então o Banco Central do Japão usou e abusou de um trampolim elástico, pois a
dimensão e diversidade da intervenção da política monetária foi apreciável.
Inferindo o
rumo das coisas pela avaliação que o Banco do Japão faz da matéria, estaremos a
chegar a um terceira etapa no rumo dos acontecimentos. De acordo com os últimos
documentos invocados por Noah Smith, o Banco do Japão entrega os pontos dizendo
que fez o possível e o impossível para estimular crescimento e inflação, mas que
é altura da política fiscal subir ao palco e assumir responsabilidades. Pois,
outros o disseram, mas enquanto Banco Central é o primeiro a reconhecê-lo
depois de ter engordado para além dos limites imaginados em termos de títulos adquiridos
no mercado. Assim sendo, longínquos estão os tempos do afastamento da “impureza”
da política fiscal.
O ensino da
macroeconomia vai ter de levar uma refrescadela senão uma grande volta.
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