sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O BANCO DO JAPÃO RENDEU-SE …




(De acordo com o meu registo destas coisas, que é falível, o Banco Central do Japão terá sido o primeiro a reconhecer que novas piruetas da política monetária não são mais possíveis, requerendo que a política fiscal ocupe o seu lugar …)

Noah Smith tem uma excelente peça no Bloomberg View sobre uma matéria sobre a qual este blogue tem abundantemente refletido. Os limites da política monetária nos tempos conturbados de taxas de juro em torno de valores nulos ou negativos é o tema. O Banco Central do Japão é um excelente caso de estudo, pois é seguramente aquele que há mais tempo começou a entrar no domínio da heterodoxia de atuação dos bancos centrais, por força dos problemas de estagnação deflacionária que atingem a economia japonesa antes da crise de 2007-2008.

A evolução nesta matéria tem sido apreciável e demolidora. No pré-crise de 2007-2008 o monetarismo foi levado aos píncaros da intervenção. A turbulência da economia parecia dominada por regras de política monetária mais ou menos mecânicas, a política monetária mandava, os bancos centrais eram os senhores da gestão de possíveis turbulências e isso retirava do sistema a instabilidade de decisão política dos governos sempre ávidos de manipular a política fiscal em função do ciclo político. Em alguns manuais de macroeconomia ainda se falava de um mix entre política monetária e política fiscal, mas o vento estava do lado da pretenda superioridade da política monetária. O primeiro passo para a destruição deste mito aconteceu com o reconhecimento de que a turbulência não era afinal tão domesticável como se pensara. A política monetária conseguiu conter os danos da crise, sobretudo do ponto de vista da sua dimensão temporal, mas o diabo foi o pós-crise e a recuperação agónica e não sustentada que lhe sobreveio. A partir daí assistiu-se a uma flexibilidade inesperada da política monetária, com várias manifestações do “far-se-á o que for necessário” com a abundância e diversidade do “quantitative easing” a marcar o passo. Foi a esta flexibilidade que chamei neste blogue de piruetas da política monetária. Se associarmos a ideia de salto à de pirueta, então o Banco Central do Japão usou e abusou de um trampolim elástico, pois a dimensão e diversidade da intervenção da política monetária foi apreciável.

Inferindo o rumo das coisas pela avaliação que o Banco do Japão faz da matéria, estaremos a chegar a um terceira etapa no rumo dos acontecimentos. De acordo com os últimos documentos invocados por Noah Smith, o Banco do Japão entrega os pontos dizendo que fez o possível e o impossível para estimular crescimento e inflação, mas que é altura da política fiscal subir ao palco e assumir responsabilidades. Pois, outros o disseram, mas enquanto Banco Central é o primeiro a reconhecê-lo depois de ter engordado para além dos limites imaginados em termos de títulos adquiridos no mercado. Assim sendo, longínquos estão os tempos do afastamento da “impureza” da política fiscal.

O ensino da macroeconomia vai ter de levar uma refrescadela senão uma grande volta.

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