sábado, 5 de novembro de 2016

NO MINHO PARA DISCUTIR A EURO-REGIÃO




(A convite do Correio do Minho, estive hoje em Braga a discutir as relações entre o Minho e a Euro-Região, numa sessão em que as dinâmicas empresariais de sentido novo foram o mote de alguma esperança)

O Correio do Minho como organizador e a Câmara Municipal de Braga que acolheu a iniciativa foram simpáticos em associar-me ao encontro “O Futuro do Minho” que teve hoje lugar no Museu dos Biscainhos em Braga. O encontro estava organizado em 3 painéis, um dedicado aos autarcas (Barcelos, Famalicão, Guimarães e Viana do Castelo), outro às empresas (Bosch, Continental Mabor e Edigma, empresa top mundial na área dos displays touch de grandes dimensões) e um outro centrado no Minho como eixo potencialmente estruturante da Euro-Região.  Do encontro fica essencialmente a relevância de empresas como as três que corporizaram o segundo painel e a grande questão que ficou no ar consiste em saber se a excelência dos três exemplos apresentados de empresas globais e de outras que poderiam ser convocadas para um encontro semelhante será suficiente para organizar e dinamizar o tecido de muito pequenas empresas que continua a marcar o panorama industrial. António Marques da Associação Industrial do Minho falou de 97% de empresas com menos de 10 trabalhadores.

O mote nas dinâmicas empresariais que estão potencialmente a transformar o Minho encaixou bem com o teor da minha intervenção que discutiu as relações do Minho com a Euro-Região com o novo olhar que temos de manter sobre as dinâmicas empresariais como objeto de aprofundamento da cooperação estratégica que a Euro-Região pretende cultivar. Mostrei que o casamento entre as dinâmicas empresariais de internacionalização (os exemplos das três empresas são reveladores desse campeonato) que operam na economia global e geoestratégias territoriais como a de uma possível Euro-região é difícil de consumar. São-no em geral e ainda mais acentuados o são quanto mais o conceito de Euro-Região Galiza-Norte de Portugal é frágil e incipiente: 

  • Um simples conceito para o mapeamento  do Noroeste Peninsular?

  • Um slogan político mais galego do que nortenho?

  • Algo de exótico para a inteligência da Comissão Europeia cultivar?

  • Uma consequência inevitável de uma proximidade (e cumplicidade) cultural?

E, para além disso, há que considerar que a Euro-região é representada de modo muito diferenciado consoante o ponto de observação. O termo é utilizado mais na Galiza do que no Norte de Portugal. Mesmo na Galiza, a representação a partir de Vigo é bastante diferente quando alimentada a partir da Corunha. E a Euro-Região transfronteiriça também se diferencia.

É nesta Euro-região frágil, incipiente e inconsequente em termos de políticas de geoestratégia territorial que um Minho em transformação se quer afirmar.


Para medir a sua transformação e fragilidades, utilizei na exposição o índice sintético de desenvolvimento regional do INE referente a 2014 e publicado em 2016, com foco particular no índice de competitividade. Para este índice, só 3 subregiões ultrapassam a média nacional do índice: a aglomeração de Lisboa, a região de Aveiro e a Área Metropolitana do Porto, por esta ordem. Logo a seguir e por curiosidade, surgem os 3 blocos do Minho – Cávado, Ave e Alto Minho, à frente de regiões que julgaríamos mais competitivas, como a região de Coimbra ou de Leiria.

Uma ideia final para situar os termos em que a cooperação pode ser organizada a partir das dinâmicas empresariais que estão a transformar o Minho. O princípio é simples. Por mais global e internacionalizada que uma empresa seja (como as presentes hoje no segundo painel), ela valoriza o seu entorno de proximidade e sobretudo a rede de serviços e de centros de conhecimento de suporte à inovação. Essa parece ser a unidade certa para estruturar a Euro-região, fazendo intervir o que alguns chamam os ecossistemas de inovação, neste caso o ecossistema de Braga-Guimarães em torno da Universidade do Minho, que o Engº Carlos Ribas da Bosch hoje tanto elogiou na sua intervenção.

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