(Reflexões sobre
a ilusória influência dos políticos no crescimento económico, matéria particularmente útil para
compreender as consequências da informação económica preliminar do INE quanto
às Contas Nacionais…)
Num dos raros
momentos virtuosos e apelativos do Quadratura do Círculo dos últimos tempos, em
que o senso comum de Jorge Coelho e alguma incapacidade de Pacheco Pereira para
compreender os verdadeiros problemas da economia portuguesa, com ou sem
Comissão Europeia a pressionar, dão oportunidade a Lobo Xavier para dizer
alguma coisa de diferente, este último fez referência à péssima prática dos
políticos em Portugal cavalgarem os dados macroeconómicos. Claro que há várias
maneiras de bem cavalgar toda a sela os dados macroeconómicos, mas o alerta de
Lobo Xavier é inteligente e precioso, sobretudo no contexto de uma economia
portuguesa em que a base estrutural dos seus principais problemas torna
precipitada qualquer tentativa de estabelecimento de correlações entre estímulos
de política pública e comportamento dinâmico do PIB. O já aqui comentado
inesperado crescimento do PIB português no terceiro trimestre do corrente ano
nem constitui um certificado de validação global da governação atual em matéria
económica, nem por outro lado significa que alguns dos problemas estruturais da
economia portuguesa tenham por encanto desaparecido. Mas que o ambiente
macroeconómico está desanuviado isso está claro que assim acontece, embora
tenhamos de reconhecer que esse desanuviamento não penetrou ainda as condições
a que a economia portuguesa poderia financiar-se sem a sombra protetora do BCE.
Referi no
meu último post sobre a matéria que,
sem toda a informação das Contas Nacionais do terceiro trimestre, o que pode no
mínimo dizer-se é que a política de reposição moderada de rendimentos não
penalizou o comportamento dinâmico das exportações. Mas que foi a procura
externa a assegurar o comportamento inesperado do PIB neste trimestre parece não
haver dúvidas. Tal como referi nesse post,
a principal interrogação consiste em saber se o bom desempenho das exportações
neste trimestre, apreciável atendendo à anemia do crescimento europeu, aconteceu
com a capacidade produtiva já instalada ou se, pelo contrário, ele refletirá já
alguma animação do investimento privado. Não é indiferente ter acontecido uma ou
outra destas duas situações. A variável investimento é a que melhor traduz os
efeitos das expectativas quanto ao estado da arte da governação. Um diferimento
das intenções de investimento pode refletir a letargia dos mercados de destino
das exportações e a incerteza quanto ao comportamento dos mercados mundiais,
mas também pode ser a consequência de uma avaliação insegura do que a governação
atual tem para oferecer às empresas. Não será, por isso, indiferente, que o
investimento tenha ou não reanimado, mesmo que a ritmos incipientes.
É verdade
que o senso comum de Jorge Coelho pode ser em parte invocado quando ele diz que
o comportamento do PIB e o pelo menos aparente convencimento de Bruxelas quanto
às virtudes do otimismo da governação atual podem provocar o chamado clique das
expectativas, segundo a fórmula “isto pode mesmo funcionar”. De qualquer modo,
manda o bom rigor de que é precipitado colocar neste acordar do crescimento
económico uma grande dose de influência da governação, com exceção claro está da
recuperação empreendida na execução dos apoios dos Fundos Estruturais ao
investimento privado. Por isso, há espaço também para acomodar o desabafo de Lobo
Xavier quando ele reporta às empresas o grande contributo para o crescimento das
exportações observado neste trimestre. Com razão.
Resta o
problema de saber o que é que a governação atual tem para oferecer à minimização
dos tais problemas estruturais que bloqueiam a economia portuguesa para um posicionamento
mais sustentado e menos vulnerável no mercado global continuando na zona euro. Em
meu entender, o que há essencialmente a fazer pode resumir-se em duas palavras:
persistência e firmeza no rumo. O que é que quero dizer com isto? Quero significar
que o problema da economia portuguesa não é a ausência de mudança e de inovação.
O problema está em que essa mudança e essa inovação são veiculadas através de
uma massa de empresas que não é ainda suficiente para influenciar os padrões médios
de comportamento da indústria e dos serviços. O problema está em gerir a
maturação dos efeitos de disseminação e alargamento do que de bom existe nessas
matérias. Os efeitos dos start-up’s
de base tecnológica, que importa como é óbvio generalizar e aumentar a sua
massa crítica, nunca serão por si sós suficientes para assegurar o esbatimento
da questão estrutural global. É por isso crucial aumentar a massa crítica das
empresas já instaladas suscetíveis de protagonizar estratégias de mudança e inovação
na economia global e com isso aumentar decisivamente a percentagem de exportações
no PIB que uma economia com a dimensão da portuguesa pode perfeitamente atingir,
entrando em intervalos de mais de 50% do PIB exportado. Essa é a questão
crucial. Aí o que se pede é persistência de orientação e rumo, seguindo aliás a
panóplia de instrumentos de política pública que os fundos estruturais têm permitido
garantir em termos de apoios à inovação e internacional. É também uma persistência
de orientação e de rumo que se pede a uma maior intensidade de transferência e
valorização do conhecimento para as empresas, já iniciado sobretudo com o período
de programação do QREN.
Moral da
história: persistência de orientação e de rumo até é compatível com um perfil
de Ministro da Economia como o de Caldeira Cabral, boas novas para ele, mesmo
que o nosso jornalismo económico teime em ver as coisas à superfície. A sua
formação não dá para mais, dos jornalistas que não do Ministro, esclareça-se.
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