(Tuncay Erol, http://www.erol-art.de)
Em jogo a contar para a fase europeia de apuramento para o Mundial de Futebol de 2018, a Alemanha foi esta semana vencer San Marino ao Estádio Olímpico de Serravalle por 8-0. No final, o jogador do Bayern de Munique Thomas Müller declarou: “Não entendo este tipo de jogos, ainda menos com uma calendário tão cheio. Entendo por eles, especialmente jogando contra os campeões do mundo. Também compreendo que eles só podem defender e jogar duro, mas penso que estes jogos não passam de um risco desnecessário e nada têm a ver com futebol profissional”. A velha questão, afinal, do profissionalismo no desporto de alta competição e de se definir até onde existem e devem continuar a existir condicionantes sócio-competitivas a salvaguardar na matéria.
Pois o diretor de comunicação da seleção da casa, Alan Gasperoni de seu nome, não se fez rogado e saiu à liça atacando Müller e justificando a utilidade deste tipo de encontros. Nestes termos que dispensam mais comentários porque dizem quase tudo:
“Estimado Thomas Müller,
Tens razão. Jogos como o de sexta-feira à noite não servem para nada. Para ti... Por outro lado, caro Thomas, não te agrada deslocares-te quase de borla até San Marino, num fim-de-semana sem ‘Bundesliga’, quando podias estar sentado num sofá da tua luxuosa casa com a tua maravilhosa esposa ou, talvez, quando podias ter ido a um qualquer evento organizado pelos teus patrocinadores e nele fazeres uma presença que te valeria vários milhares de euros. Compreendo-te, mas gostaria de te dar dez bons motivos pelos quais acho que o jogo San Marino-Alemanha foi muito útil para que possas pensar nisso e depois dar-me a tua opinião...
1 - Serviu para te mostrar que até contra equipas tão fracas como a nossa, às vezes não consegues marcar... E não me venhas dizer que não ficaste chateado por o Simoncini não te ter deixado faturar.
2 - Serviu para dizer aos teus diretores (e diz isso também ao Rummenigge e ao Beckenbauer) que o futebol não é vossa propriedade, mas sim dos que amam este jogo. E quer queiras ou não, nós também amamos o futebol.
3 - Serviu para mostrar a centenas de jornalistas europeus que ainda existem jovens seguindo os seus sonhos e não as vossas regras.
4 - Serviu para confirmar que vocês, os alemães, nunca vão mudar e que a história não vos ensinou ainda que a prepotência nem sempre é garantia de vitória.
5 - Serviu para 200 miúdos de San Marino verem o jogo e ficarem motivados para escutar os seus treinadores quando eles disserem para darem sempre o seu melhor e trabalharem no duro. Talvez, um dia, depois de todos os seus sacrifícios, eles sejam recompensados e possam jogar contra uma seleção campeã mundial.
6 - Serviu para a nossa Federação (e para a vossa também), que com os direitos televisivos angariaram dinheiro para te poder pagar pelo teu incómodo, para poder construir infraestruturas para os miúdos do teu país, para poder investir em academias de futebol ou para tornar os estádios alemães mais seguros... A nossa Federação, e vou-te contar um pequeno segredo, vai construir um campo de futebol numa pequena cidade isolada que se chama Acquaviva. Podias pagar o campo com alguns meses do teu salário, mas nós conseguimos o dinheiro para poder construir este estádio nessa cidade. Não é algo mau, ou é?
7 - Serviu para um país tão grande como o público que enche um sector da vossa ‘Allianz Arena’ aparecer nos meios de comunicação social por uma boa razão, porque o futebol é sempre uma boa razão.
8 - Serviu para o teu jovem amigo Gnabry se estrear e fazer um ‘hat-trick’. Agora, ele vai poder solicitar um novo contrato ao Werder Bremen e dobrar o seu salário.
9 - Serviu para alguns habitantes de San Marino que estavam tristes por qualquer razão se recordarem que têm uma seleção nacional. Pode acontecer-te, apesar de seres quase perfeito, que um dia percas alguém e acordes chateado, não?
10 - E, finalmente, serviu para eu perceber que, mesmo que tenhas o melhor equipamento da Adidas, bem lá no fundo tu não passas de um daqueles tipos que usa sandálias com meias brancas.
Com muito amor, Alan.”
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