(Compreende-se
que dificilmente o governo enjeitaria esta prenda da WEB SUMMIT em Lisboa, por isso alguma coisa que se veja vinda do Ministério
da Economia teria necessariamente de andar em torno do apoio a start-up’s)
A dimensão
mundial de um evento como a WEB SUMMIT que animará por esta semana a cidade de
Lisboa dificilmente poderia calhar melhor a um governo carenciado de matéria
para além da asfixia orçamental a que a situação financeira da dívida nos
conduz. A projeção mundial do evento é inquestionável e não estou a falar
apenas da dimensão turística da Cidade e do País. A WEB SUMMIT pode ser, de
facto, crucial, para ajudar a divulgar as atmosferas empreendedoras de que a
Cidade se reivindica (com exceção claro está da terceiro-mundista escassez de títulos
de viagem nas máquinas automáticas do Metro em Lisboa, que o nosso conhecido
ministro do Ambiente, tão circunspecto ao lado de Pinto da Costa e do seu próprio
pai ontem na bancada VIP do FCP, classificou em má hora de azar). Mas, na minha
perspetiva, o principal impacto da cimeira tecnológica poderá estar na insinuação
do País e da sua capacidade empreendedora junto dos fundos de investimento especializados
nestas matérias tecnológicas, que disputam por esse mundo fora a oportunidade
de apoiar talentos empresariais. Aliás, é nessa perspicaz orientação que avalio
a prestação do secretário de Estado João Vasconcelos na elaboração de um
programa de apoio a start-up’s em que
o Estado português procura deliberadamente a parceria com esses fundos de investimento
especializados, convidando-os a assumir a responsabilidade de escolher os
melhores. A entrevista de domingo do secretário de Estado à Antena 1 é revigorante
sobretudo do ponto de vista do quase isolamento a que o Ministério da Economia
tem sido votado. Claro que os 200 milhões de euros que o governo se propõe
juntar a essa parceria no apoio a start-up’s
em termos de “venture capital” é uma
gota no oceano dos recursos movimentados por tais investidores especializados
no domínio do empreendedorismo tecnológico. Valerá aqui o impacto da WEB SUMMIT
em Lisboa e das atmosferas que tais investidores puderem captar na Cidade e na
dinâmica de empreendimento nacional que emergirá na Cimeira. Mas a ideia é bem
conseguida, porque permite superar a canhestra incapacidade de fundos de
capital de risco e de investidores nacionais para avaliar projetos tecnológicos,
de que a imagem pífia e até parola dos personagens do Shark tank evidenciam até à exaustão. A ideia é trazer cá para
dentro o know-how tecnológico
especializado desses investidores, sobretudo em matéria dos desafios de mercado
que os start-up’s precisam de vencer para atingir velocidades de cruzeiro em
termos de ciclo de produto.
Não há
governo que resista ao charme tecnológico dos start-up’s e o de António Costa não foge naturalmente à regra.
Mas em ambiente
festivo de WEB SUMMIT e refrescamento de ideias do Ministério da Economia,
importa não esquecer duas coisas:
- Primeiro, o estado da arte em termos de start-up’s em Portugal, designadamente de base tecnológica, não pode ser dissociado de uma continuidade de política pública que tem sido possível manter desde o QCA III, estimulando a ciência a buscar utilizadores e as empresas a investir em conhecimento-inovação; é a prova de que a continuidade em política pública interessa, e muito;
- Segundo, importa não esquecer que a via das start-up’s é tão só uma via e, em termos de massa crítica de efeitos, não a mais importante para agitar a modernização do tecido produtivo nacional; os que chegam de novo com ideias inovadoras não chegam para conduzir os que já existem a evoluir para práticas mais competitivas, incorporando mais conhecimento; o efeito torna-se mais virtuoso com a massa crítica dos que chegam de novo a interagir com o tecido existente. Não estaremos ainda aí. Mas poderemos lá chegar, sobretudo se a política pública for sábia na combinação das duas dimensões e se a capacidade empresarial o compreende.
Sem comentários:
Enviar um comentário