segunda-feira, 28 de novembro de 2016

AFINAL O QUE É UM BANCO PÚBLICO?




AFINAL O QUE É UM BANCO PÚBLICO?

(Diz-se que o que começa mal não acaba bem e estava escrito que a Caixa iria dar para o torto, mas no meio de tanta algazarra, para todos os gostos e feitios, há algo que me preocupa, é que ninguém parece saber efetivamente o que é e o que pretende do banco público, a não ser os que dominam o tráfico de influências…)

Domingues e parte da sua equipa deram à sola. As forças da direita e a vaidade do Bloco (parceiros instáveis de acordo e o que seria se estivessem na governação) tiveram no parlamento uma tarde e anoitecer de glória, porque afinal acabaram por se sobrepor aos ditames do Tribunal Constitucional. O cronista do Reino Mendes veio comunicar à populaça que Domingues e a sua equipa se sentiram ofendidos com a deliberação da Assembleia e houve quem dissesse (terei ouvido bem?) que, no caso do Parlamento não deliberasse nesse sentido, a equipa de Domingues teria acabado provavelmente por entregar a declaração de rendimentos e de património. Isto parece mais uma ópera bufa. O governo faz de conta e assobia para o lado, refugiando-se numa postura de Estado (agora?). A direita, particularmente o PSD, cavalga desesperado esta brecha, afinal não tem mais nada para dizer, até dói a grotesca postura de oposição em que o PSD se colocou, numa patética esperança de que o tempo passe depressa e que o filme não tenha de ser rebobinado.

Já se percebeu que a personagem Domingues não me impressiona, não só devido a uma postura que, se não é de arrogância pura e dura, disfarça muito bem. Impressiona-me a ligeireza com que os masters do emprego privado nas instituições financeiras imaginam que é possível gerir recursos públicos, exigindo as mesmas regalias e supra-imaginárias remunerações, o que para mim é um excelente indicador da deficiente compreensão dos limites e relações entre o público e o privado.

Mas no meio desta ópera bufa, o que mais me inquieta é que, perante tanta convicção na defesa do banco público, é difícil encontrar alguém que saiba efetivamente o que fazer de um banco público com a dimensão da Caixa, imaginando que a recapitalização chega a bom porto e fique em condições para funcionar.

O que espera o Governo da Caixa?

É a preservação sistémica da estabilidade do sistema financeiro que se procura, estimulando pela concorrência na procura de recursos a banca privada a comportamentos mais sólidos e menos lesivos dessa instabilidade?

Ou pretende-se que a Caixa seja o parceiro fundamental de apoio de crédito a projetos empresariais que correspondam ao modelo económico de promoção de melhores condições de competitividade na economia mundial, fazendo da Caixa por exemplo um parceiro estratégico rigoroso do financiamento da internacionalização das empresas portuguesas?

Sabemos que não queremos uma Caixa do tipo da que personagens como Carlos Santos Ferreira, Armando Vara e outros amanuenses da gestão financeira exercitaram, com financiamento de operações que não se compreendem numa instituição bancária privada de confiança, muito menos num banco público. Mas para que a defesa da opção banco público esteja firme entre os portugueses talvez fosse conveniente ser mais claro naquilo que se pretende que ela seja. Afinal, as duas opções que constam dos dois últimos parágrafos anteriores não se reconduzem a apoiar projetos inviáveis. A Caixa não vai operar num mercado à parte. Vai operar no mesmo mercado em que operam as suas principais concorrentes. Vai estar sujeita aos mesmos constrangimentos e regras apertadas de supervisão bancária europeia, enfrentando os mesmos desafios no seu refinanciamento internacional. Com tudo isto, parece ser a hora de menos discursos de bandeira e tempo de mais rigor e clareza nos objetivos que se prosseguem. Não sabemos que mandato Domingues terá recebido. Não sabemos também em que argumentos se baseia o tal parecer alternativo que dava a Domingues a convicção (seria mesmo convicção) de que não estava sujeito à obrigatoriedade de entrega de declarações de rendimento e de património.

Sabemos de facto muito pouco de coisas fundamentais para compreender o alcance de ter um banco público na economia portuguesa de hoje. De chicana política estamos fartos.


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