sábado, 5 de novembro de 2016

O PENSAMENTO ECONÓMICO DE HILLARY

(Lucas, Solow e Stiglitz a assinar o mesmo manifesto? Pois, é o efeito da ameaça Trump!)



(Quando nem as vozes de economistas Nobel de Economia chegam para infletir o avanço de primarismo de Trump, parece contraditório da minha parte ir à cata de algumas ideias económicas relevantes em torno da candidatura de Hillary Clinton, mas talvez não seja

Numa tentativa algo desesperada (e ingénua, diria eu) de conter o avanço eleitoral do primarismo de Trump, depois da carta de mais de trezentos economistas publicada no Wall Street Journal com a presença de alguns Nobel, uma outra carta assinada por 19 economistas Nobel seguiu a mesma via, indo mais além e justificando o apoio a Hillary. O que é efetivamente interessante neste último grupo é a sua diversidade, em termos de paradigmas económicos e de posicionamentos políticos. O grupo pasme-se inclui gente desde Robert Lucas Jr. e Thomas Sargent, sim não é engano, até Angus Deaton, Robert Solow, Joseph Stiglitz , Robert Shiller ou Eric Maskin. Ou seja, um grupo que se uniu na denúncia dos perigos da aventura Trump e da defesa da maior experiência de serviço público e consistência de Hillary, embora alguns destes economistas digam cobras e lagartos da política económica que a candidata pretende reafirmar. Na minha interpretação, isto só quer dizer que a ameaça é real e só faltou Eugene Fama, aquele que continua a acreditar que a crise de 2007-2008 não destruiu os fundamentos da teoria dos mercados financeiros, para integrar o grupo. Curiosamente Krugman ficou de fora, vá lá saber-se a razão.

Noah Smith,no Bloomberg View, diz mais ou menos o que me parece óbvio que ninguém acaba por dar atenção ao que é dito acerca de Trump. Não porque os argumentos apresentados não sejam válidos ou merecedores de atenção. Mas fundamentalmente porque a esmagadora maioria dos apoiantes está fora do sistema que consagra o raio de alcance de discursos minimamente estruturados. E porque, para essa massa de marginalizados, os economistas, mesmo os Nobel (o que será isso de Nobel para um apoiante típico de Trump?), estão indissociavelmente ligados ao sistema que eles querem destruir. Acrescento a essas razões uma outra. Muitos dos economistas que agora assinam este último manifesto da vergonha que a vitória de Trump pode representar tudo fizeram nos últimos tempos para se afastar do respeito e atenção que a sua obra poderia exercer. Mas é melhor tarde do que nunca, embora me pareça que o manifesto nada representará do ponto de vista de uma possível inflexão do rumo da sua produção.

Ainda assim, tenho andado atento a possíveis novas ideias económicas que atravessem a candidatura de Hillary. Muito recentemente, apareceu alguma coisa de relevante em torno de uma ideia que pode estar associada à evolução da desigualdade pelo menos na economia americana, embora valesse a pena testar o argumento para algumas economias europeias. O tema chama-se monopsónio da procura de trabalho, ou se quiserem a emergência de fenómenos de monopsónio no mercado de trabalho. O monopsónio é uma concentração brutal da procura. No fundo, uma situação de monopsónio revela que uma dada empresa ou organização dispõe de um poder imenso de rebaixamento dos preços dos fatores de produção que adquire, entre os quais o trabalho. E pelos artigos e estudos que têm sido dados à estampa designadamente pelo Council of Economic Advisors do ainda em exercício Barack Obama é isso que está a acontecer com relevância no mercado de trabalho americano.
Valerá a pena regressar a esta questão, sobretudo à matéria das razões estruturais que podem determinar a emergência nos mercados de trabalho de forças de monopsónio. As consequências são conhecidas, algumas das quais já aqui abundantemente mencionadas neste blogue, a divergência entre o crescimento dos salários e da produtividade do trabalho e a queda da fração de rendimento que é distribuída ao fator trabalho. Voltaremos a esta questão.

Sem comentários:

Enviar um comentário