(Lucas, Solow e Stiglitz a assinar o mesmo manifesto? Pois, é o efeito da ameaça Trump!)
(Quando nem as vozes
de economistas Nobel de Economia chegam para infletir o avanço de primarismo de
Trump, parece contraditório
da minha parte ir à cata de algumas ideias económicas relevantes em torno da
candidatura de Hillary Clinton, mas talvez não seja
Numa
tentativa algo desesperada (e ingénua, diria eu) de conter o avanço eleitoral
do primarismo de Trump, depois da carta de mais de trezentos economistas publicada
no Wall Street Journal com a presença de alguns Nobel, uma outra carta assinada por 19 economistas Nobel seguiu a mesma via, indo mais além e justificando o
apoio a Hillary. O que é efetivamente interessante neste último grupo é a sua
diversidade, em termos de paradigmas económicos e de posicionamentos políticos.
O grupo pasme-se inclui gente desde Robert Lucas Jr. e Thomas Sargent, sim não é
engano, até Angus Deaton, Robert Solow, Joseph Stiglitz , Robert Shiller ou
Eric Maskin. Ou seja, um grupo que se uniu na denúncia dos perigos da aventura
Trump e da defesa da maior experiência de serviço público e consistência de
Hillary, embora alguns destes economistas digam cobras e lagartos da política
económica que a candidata pretende reafirmar. Na minha interpretação, isto só
quer dizer que a ameaça é real e só faltou Eugene Fama, aquele que continua a
acreditar que a crise de 2007-2008 não destruiu os fundamentos da teoria dos
mercados financeiros, para integrar o grupo. Curiosamente Krugman ficou de
fora, vá lá saber-se a razão.
Noah Smith,no Bloomberg View, diz mais ou menos o que me parece óbvio que ninguém acaba
por dar atenção ao que é dito acerca de Trump. Não porque os argumentos apresentados
não sejam válidos ou merecedores de atenção. Mas fundamentalmente porque a esmagadora
maioria dos apoiantes está fora do sistema que consagra o raio de alcance de
discursos minimamente estruturados. E porque, para essa massa de marginalizados,
os economistas, mesmo os Nobel (o que será isso de Nobel para um apoiante típico
de Trump?), estão indissociavelmente ligados ao sistema que eles querem destruir.
Acrescento a essas razões uma outra. Muitos dos economistas que agora assinam este
último manifesto da vergonha que a vitória de Trump pode representar tudo fizeram
nos últimos tempos para se afastar do respeito e atenção que a sua obra poderia
exercer. Mas é melhor tarde do que nunca, embora me pareça que o manifesto nada
representará do ponto de vista de uma possível inflexão do rumo da sua produção.
Ainda assim,
tenho andado atento a possíveis novas ideias económicas que atravessem a candidatura
de Hillary. Muito recentemente, apareceu alguma coisa de relevante em torno de uma
ideia que pode estar associada à evolução da desigualdade pelo menos na
economia americana, embora valesse a pena testar o argumento para algumas
economias europeias. O tema chama-se monopsónio da procura de trabalho, ou se
quiserem a emergência de fenómenos de monopsónio no mercado de trabalho. O
monopsónio é uma concentração brutal da procura. No fundo, uma situação de monopsónio
revela que uma dada empresa ou organização dispõe de um poder imenso de
rebaixamento dos preços dos fatores de produção que adquire, entre os quais o
trabalho. E pelos artigos e estudos que têm sido dados à estampa designadamente
pelo Council of Economic Advisors do
ainda em exercício Barack Obama é isso que está a acontecer com relevância no
mercado de trabalho americano.
Valerá a
pena regressar a esta questão, sobretudo à matéria das razões estruturais que podem
determinar a emergência nos mercados de trabalho de forças de monopsónio. As
consequências são conhecidas, algumas das quais já aqui abundantemente
mencionadas neste blogue, a divergência entre o crescimento dos salários e da
produtividade do trabalho e a queda da fração de rendimento que é distribuída
ao fator trabalho. Voltaremos a esta questão.
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