sábado, 12 de novembro de 2016

LEONARD COHEN


De entre o tanto que se disse e escreveu nas últimas horas a pretexto da morte de Leonard Cohen, quero aqui destacar uma das minhas escolhas habituais – a primeira página do “Libé” – e os dois textos que o “Expresso” divulgou de Pedro Mexia (“Cântico dos Cânticos”) e Pedro Santos Guerreiro (“Cohen, vai lá à tua Morte”).

Reproduzo excertos, com a obrigatória vénia. Do primeiro: “Lembro-me de ter começado pelo fim e pelo princípio, de um lado o Cohen despojado e sombrio dos três primeiros álbuns, do outro o mais recente, à época, ‘I’m Your Man’, que tinha uns coros femininos problemáticos mas que era ainda assim admirável. Lembro-me de perceber que Cohen era umpoeta, um ‘poeta publicado’ como se diz em inglês, e que as canções decorriam naturalmente dos livros, escritos à sombra de Layton e de Lorca, de Rumi e do ‘I Ching’, livros trovadorescos, sarcásticos, elegíacos, sensuais, espirituais, zangados. (...) Lembro-me de não saber se as canções eram sagradas ou profanas, como às vezes não sabemos se são sagrados ou profanos o ‘Cântico dos Cânticos’, São João da Cruz ou os místicos orientais. Lembro-me de entender que Cohen era a encarnação moderna da linhagem que me ensinou tudo ou quase tudo: os trovadores medievais, os poetas renascentistas, os românticos oitocentistas, os surrealistas franceses. (...) Lembro-me de que toda a gente achava Cohen depressivo, deprimido, deprimente, mas eu não.” E do segundo: “’O meu Dylan é o Cohen’, escrevi eu há dias numa parede, eu e mais um saco de gente, por causa de um prémio Nobel dado a um escritor de canções fenomenal que todos adoramos mas que nem todos amamos. Amor é contigo, sempre foi, nunca tiveste outra língua na tua língua que não fosse amor. São quatro da manhã, Cohen, aqui em Lisboa, and thanks for the trouble you took from her eyes. (...) Escrevo-te esta carta como uma primeira pedra depois da última perda que é ires agora, não eram ainda quatro da manhã aqui em Lisboa, this could be my little book about love if I wrote it. Escrevo-te esta carta como tu escreveste aquela em Famous Blue Raincoat e na verdade as minhas frases em português são só intervalos de gratidão entre as tuas frases em inglês. O melhor é mesmo assinares tu isto: Sincerely L Cohen.”

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