terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A INCOMPREENSÍVEL DIVERSÃO DO PSD




(A diversidade de erros mútuos em curso na gestão política do PSD, com foco no seu inenarrável grupo parlamentar, é algo de incompreensível numa força política que pretende ser poder e ganhar a confiança do eleitorado. Se for capaz de gerir e conter as derivas do vendedor antecipado que por vezes intrinsecamente o atravessa, o PS pode bem agradecer aos deuses da política, acaso eles existam …)

Sempre tive a certeza de que um grupo parlamentar que se agarra desesperadamente por longo tempo à tese do diabo que vem aí e conhecendo as peças que o suporte de Passos Coelho alberga iria fazer suar as estopinhas a uma alma do Norte, com pretensões a colocar em ordem o partido, como Rio se apresenta. E ainda com mais convicção fiquei quando os ditos cujos renunciaram às primárias, acolhendo-se na personagem “Maria vai com as outras” em que Pedro Santana Lopes (PSL) tem vindo a transformar-se, como forma de resiliência não muito recomendável. Por isso, não sei se por ingenuidade ou por maquiavelismo à moda do Porto, quando Rio decidiu envolver fraternalmente os apoiantes de PSL numa lista única para o Conselho Nacional, nem por sombras fui na cantiga que isso iria pacificar as hostes. Primeiro, há a velha matéria da matriz das regionais no PSD que têm muita força e que amigos, amigos, negócios à parte, procuraram fazer reservas de posição, vá lá o diabo (não o outro) tecê-las. Depois, imaginar que as hostes que suportaram Passos e os seus arremedos de estadista (o emblema na lapela faz parte desta minha interpretação) e permanecem sentadinhos (daqui ninguém me tira) no grupo parlamentar se entregariam docilmente ao clima de paz e harmonia era pura ilusão. Ou seja, isso equivaleria a não conhecer as peças e que peças. Basta mergulharmos com atenção em dois anos de vida parlamentar e de papagaiada em tudo que é comunicação social pronta a acolher os putativos liberais para compreender de que ambição destrutiva esta gente é capaz. Nesse vasto movimento que foi resistindo como pôde à agilização inesperada da geringonça, existe um ADN que não desdenharia partir os pratos no grupo parlamentar e deixando o pobre e honesto Negrão numa posição de profunda (veremos se irreversível) fragilidade. Não há nesse grupo uma personalidade relevante que seja que se afirme como alguém com pensamento reconhecido na sociedade e por isso o aprendiz de estadista Passos aparece com a auréola que lhe pintaram. Basta também ler algumas crónicas no Observador para compreender o profundo desespero por Passos ter saído de cena. E vejam, por exemplo, esta pequena maravilha de um dos cronistas dessa orientação (João Marques de Almeida): “Agora que Passos Coelho abandonou a liderança do PSD, gostaria de salientar a sua capacidade para captar figuras com talento e carreiras brilhantes fora do nosso país. Entre essas pessoas, apontaria Vítor Gaspar, cujo valor foi reconhecido em Frankfurt, em Bruxelas e agora no FMI; Miguel Poiares Maduro, com uma carreira académica brilhante na Europa e nos Estados Unidos tal como no Tribunal de Justiça Europeu; Carlos Moedas, cujo desempenho na Comissão Europeia tem sido elogiado por todos em Bruxelas e noutros países europeus; e Álvaro Santos Pereira, com uma posição de destaque na OCDE. Nenhum deles precisa da política para ter sucesso e, como se tem visto, o seu valor é muito bem reconhecido fora do nosso país”. Não sei se o JMA perguntou alguma vez a tão ilustres personalidades se seguiriam a mesma estrada. Talvez tivesse algumas surpresas.

Por vezes, dou comigo a matutar e a pensar em algumas almas penadas que apareceram nas manifestaçõezinhas de Lisboa e Porto para protestar pelo facto do partido mais votado (o de Passos) não poder afinal governar pelo simples jogo político parlamentar. Onde estarão hoje essas almas penadas? Serão elas o suporte da guerrilha suicida instalada no grupo parlamentar? Estarão os guerrilheiros a pensar manter-se ativos até devolver às terras do Norte o pretensamente reorganizador Rio?

Dou também comigo a matutar que a política tem destas coisas. Não imaginaria poder alimentar alguma empatia por um candidato como Rui Rio, que não corresponde de facto ao meu sentido de modernidade. Mas, face à rapaziada que vai alimentando essa guerrilha e se vai agarrando pour cause a um lugar parlamentar, apetece-me dizer Rio vai-te a eles. O que me sugere que algum eleitorado possa estar a pensar o mesmo. É verdade que a agenda de Rio não é aliciante e a sua aprendizagem para lidar com os amigos da corte, sim mais do que tudo são amigos da corte, vai ser longa e dura. Mas, se pelo menos em matéria de descentralização, Rio conseguir que o equilibrado pacote de descentralização do PS se liberte das incompreensíveis medidas, avulsamente anunciadas, de eleições diretas para as presidências das Áreas Metropolitanas e de eleições dos Presidentes das CCDR a partir de um colégio eleitoral de autarcas, serei o primeiro a felicitá-lo. Já no que respeita ao tema dos Fundos Estruturais e PT2030, o ex-secretário de Estado de Maduro Castro Almeida, face à génese do PT2020 e à sua atribulada negociação não me inspira grandes otimismos.

O PS tem aqui um desafio enorme, mas seguramente retribuidor, de gestão política equilibrada.

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