(A diversidade de erros mútuos em curso na gestão política
do PSD, com foco no seu inenarrável grupo parlamentar, é algo de incompreensível
numa força política que pretende ser poder e ganhar a confiança do eleitorado.
Se for capaz de gerir e conter as derivas do vendedor antecipado que por vezes intrinsecamente
o atravessa, o PS pode bem agradecer aos deuses da política, acaso eles existam
…)
Sempre tive a certeza de que um grupo
parlamentar que se agarra desesperadamente por longo tempo à tese do diabo que
vem aí e conhecendo as peças que o suporte de Passos Coelho alberga iria fazer
suar as estopinhas a uma alma do Norte, com pretensões a colocar em ordem o partido,
como Rio se apresenta. E ainda com mais convicção fiquei quando os ditos cujos
renunciaram às primárias, acolhendo-se na personagem “Maria vai com as outras”
em que Pedro Santana Lopes (PSL) tem vindo a transformar-se, como forma de
resiliência não muito recomendável. Por isso, não sei se por ingenuidade ou por
maquiavelismo à moda do Porto, quando Rio decidiu envolver fraternalmente os
apoiantes de PSL numa lista única para o Conselho Nacional, nem por sombras fui
na cantiga que isso iria pacificar as hostes. Primeiro, há a velha matéria da matriz
das regionais no PSD que têm muita força e que amigos, amigos, negócios à
parte, procuraram fazer reservas de posição, vá lá o diabo (não o outro) tecê-las.
Depois, imaginar que as hostes que suportaram Passos e os seus arremedos de
estadista (o emblema na lapela faz parte desta minha interpretação) e permanecem
sentadinhos (daqui ninguém me tira) no grupo parlamentar se entregariam
docilmente ao clima de paz e harmonia era pura ilusão. Ou seja, isso equivaleria
a não conhecer as peças e que peças. Basta mergulharmos com atenção em dois
anos de vida parlamentar e de papagaiada em tudo que é comunicação social
pronta a acolher os putativos liberais para compreender de que ambição
destrutiva esta gente é capaz. Nesse vasto movimento que foi resistindo como pôde
à agilização inesperada da geringonça, existe um ADN que não desdenharia partir
os pratos no grupo parlamentar e deixando o pobre e honesto Negrão numa posição
de profunda (veremos se irreversível) fragilidade. Não há nesse grupo uma
personalidade relevante que seja que se afirme como alguém com pensamento
reconhecido na sociedade e por isso o aprendiz de estadista Passos aparece com
a auréola que lhe pintaram. Basta também ler algumas crónicas no Observador
para compreender o profundo desespero por Passos ter saído de cena. E vejam,
por exemplo, esta pequena maravilha de um dos cronistas dessa orientação (João
Marques de Almeida): “Agora que Passos
Coelho abandonou a liderança do PSD, gostaria de salientar a sua capacidade
para captar figuras com talento e carreiras brilhantes fora do nosso país. Entre
essas pessoas, apontaria Vítor Gaspar, cujo valor foi reconhecido em Frankfurt,
em Bruxelas e agora no FMI; Miguel Poiares Maduro, com uma carreira académica
brilhante na Europa e nos Estados Unidos tal como no Tribunal de Justiça
Europeu; Carlos Moedas, cujo desempenho na Comissão Europeia tem sido elogiado
por todos em Bruxelas e noutros países europeus; e Álvaro Santos Pereira, com
uma posição de destaque na OCDE. Nenhum deles precisa da política para ter
sucesso e, como se tem visto, o seu valor é muito bem reconhecido fora do nosso
país”. Não sei se o JMA perguntou alguma vez a tão ilustres personalidades
se seguiriam a mesma estrada. Talvez tivesse algumas surpresas.
Por vezes, dou comigo a matutar e a pensar em
algumas almas penadas que apareceram nas manifestaçõezinhas de Lisboa e Porto
para protestar pelo facto do partido mais votado (o de Passos) não poder afinal
governar pelo simples jogo político parlamentar. Onde estarão hoje essas almas
penadas? Serão elas o suporte da guerrilha suicida instalada no grupo
parlamentar? Estarão os guerrilheiros a pensar manter-se ativos até devolver às
terras do Norte o pretensamente reorganizador Rio?
Dou também comigo a matutar que a política
tem destas coisas. Não imaginaria poder alimentar alguma empatia por um
candidato como Rui Rio, que não corresponde de facto ao meu sentido de
modernidade. Mas, face à rapaziada que vai alimentando essa guerrilha e se vai
agarrando pour cause a um lugar parlamentar,
apetece-me dizer Rio vai-te a eles. O que me sugere que algum eleitorado possa
estar a pensar o mesmo. É verdade que a agenda de Rio não é aliciante e a sua aprendizagem
para lidar com os amigos da corte, sim mais do que tudo são amigos da corte,
vai ser longa e dura. Mas, se pelo menos em matéria de descentralização, Rio
conseguir que o equilibrado pacote de descentralização do PS se liberte das incompreensíveis
medidas, avulsamente anunciadas, de eleições diretas para as presidências das Áreas
Metropolitanas e de eleições dos Presidentes das CCDR a partir de um colégio
eleitoral de autarcas, serei o primeiro a felicitá-lo. Já no que respeita ao
tema dos Fundos Estruturais e PT2030, o ex-secretário de Estado de Maduro
Castro Almeida, face à génese do PT2020 e à sua atribulada negociação não me
inspira grandes otimismos.
O PS tem aqui um desafio enorme, mas seguramente
retribuidor, de gestão política equilibrada.
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