domingo, 18 de fevereiro de 2018

RECENTRAR OU ASSUMIR A DIREITA?




(Agora que o Congresso do PSD caminha para o fim, muito pouca coisa de relevante fica, a não ser a dúvida estratégica crucial que consta do título deste post. Para além disso, minudências, só minudências, com a comunicação social danada pela reduzida matéria de pequeno sangue que lhe foi proporcionada.)

Em posts anteriores, defendi que a grande questão que ficaria a pairar sobre o Congresso e sobre os próximos dois anos de Rui Rio seria a retirada estratégica do pensamento que suportou a ideia de Passos Coelho e seus ideólogos de instrumentalizar os favores da Troika para destruir o que eles consideram ser o Portugal arcaico. Ao não se apresentar às eleições primárias e esconder-se numa candidatura generosa de Santana Lopes que dava para tudo, essa alternativa ideológica para o PSD não poderia deixar de pairar sobre o Congresso. A intervenção de Luís Montenegro assumiu esse papel. Retirar-se de cena com algum estrondo, marcar posição e lugar para o futuro, sem qualquer auto-análise crítica do PSD na oposição que alimentaram durante dois anos, não é lá grande coisa. E o Montenegro que me perdoe, mas não consigo perceber onde está a tal consistência de que muitos falam a propósito deste advogado da nossa praça, com pronúncia do Norte. Se a grande alternativa futura do PSD passa por este tipo de personagens, desejo-lhes a maior sorte. Isso não encaixa com a alusão ouvida pelos corredores do Congresso de que o PSD tem de recuperar personagens e estatutos relevantes da sociedade portuguesa e trazê-los de novo para a política ativa.

Com a alternativa de direita a banhos nas suas vidinhas, a alternativa recentrar o PSD ou assumir a direita segue dentro de momentos e fica dependente do que Rio conseguir alcançar nos próximos tempos, a começar pelas Europeias, onde até pode ter um resultado promissor se entregar o processo a Paulo Rangel. A posição defendida por Pacheco Pereira de recentrar o partido, corrigindo o tiro de Passos Coelho e seus apoiantes parece momentaneamente ter ganho posição, mas esta ideia de chamar Santana para uma combinação de listas para o Conselho Nacional não a fortalece. É uma grande misturada e já não há pachorra para aqueles discursos moralistas e pseudo-afetivos de Santana.

Por isso, do Congresso ficam, para além da intervenção de posicionamento futuro de Montenegro, minudências como a de colocar Paulo Teixeira da Cruz à beira de um ataque de nervos com a chamada de Elina Fraga, ex-bastonária dos advogados e as pequenas e costumeiras revoltas das distritais quando definidos os lugares se percebe que há poucas cadeiras para tantos bailarinos.

Creio que é pouco para quem precisava de forte embalagem para dois anos difíceis. Curiosamente, a frente estreita que se abre a Rio foi bem identificada por António Lobo Xavier no último Quadratura do Círculo, quando identificou as margens de manobra para uma reconsideração do papel do Estado em Portugal que Rio poderia protagonizar como alternativa de poder ao PS, apoiado ou não à esquerda.

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