(A UNESCO acaba de revelar que mais do que metade das
crianças e adolescentes escolarizados no mundo não estão efetivamente a
aprender. Motivos suficientes para alarme.)
No âmbito da sua responsabilidade pela organização e publicação de estatísticas
comparativas sobre educação e literacia, a UNESCO acaba de publicar o primeiro
relatório de monitorização da meta do desenvolvimento sustentável (link aqui), relacionada
com a produção de resultados efetivos em termos de aprendizagem nos níveis do
ensino primário e secundário.
O número que salta imediatamente é o de 617 milhões de crianças e
adolescentes que não estão neste momento a atingir os resultados mínimos de
aprendizagem considerados para efeitos de comparação internacional, construídos
em torno de capacidades mínimas de leitura e de matemática básica.
Como é óbvio, isto não significa que esteja ganha a batalha da escolarização,
medida pelas taxas de participação nos dois graus de ensino, emergindo o
desafio do desempenho e da aprendizagem. Essa conceção etapista de primeiro
assegurar a escolarização e depois trabalhar a melhoria da aprendizagem é de
uma profunda desumanidade para largos cohorts
de população que permanecerão na armadilha dessa transição. Aqui não há lugar
para etapismos. Há simplesmente que cuidar que o reforço necessário da
escolarização seja efetivo, ou seja, acompanhado de boas condições de
aprendizagem. 6 em 10 crianças e adolescentes não terem aproveitamento e não
atingirem aprendizagens mínimas é algo de alarmante, suscitando reflexão
futura.
Uma interpretação malévola destes dados poderia ser a de que o sistema
educativo é um sistema puxado pela despesa e pela oferta e não por resultados. O
sistema financiar-se-ia pela escolarização (frequência) e não pela eficácia da
atividade letiva, reproduzindo-se em função da despesa pública que consegue
justificar e exigir. É uma interpretação malévola porque equivaleria, embora não
ignorando os efeitos perversos, a ignorar o trabalho épico de muitos
professores a ensinar em condições inimagináveis para um ocidental habituado a
ensinar no quentinho ou no fresquinho, no inverno e no verão. Os resultados terão
que ver antes com as exigências excessivas que interpelam a escola, quando
essas crianças e adolescentes se inserem em péssimas condições comunitárias,
todas elas apontadas ao insucesso. Um bom indicador dessa realidade é a
percentagem de não aproveitamento aumentar na África sub-Sahariana para cerca
de 80%.
(O Guardian tem uma excelente introdução ao tema - link aqui)
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