sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

ALARME




(A UNESCO acaba de revelar que mais do que metade das crianças e adolescentes escolarizados no mundo não estão efetivamente a aprender. Motivos suficientes para alarme.)

No âmbito da sua responsabilidade pela organização e publicação de estatísticas comparativas sobre educação e literacia, a UNESCO acaba de publicar o primeiro relatório de monitorização da meta do desenvolvimento sustentável (link aqui), relacionada com a produção de resultados efetivos em termos de aprendizagem nos níveis do ensino primário e secundário.

O número que salta imediatamente é o de 617 milhões de crianças e adolescentes que não estão neste momento a atingir os resultados mínimos de aprendizagem considerados para efeitos de comparação internacional, construídos em torno de capacidades mínimas de leitura e de matemática básica.

Como é óbvio, isto não significa que esteja ganha a batalha da escolarização, medida pelas taxas de participação nos dois graus de ensino, emergindo o desafio do desempenho e da aprendizagem. Essa conceção etapista de primeiro assegurar a escolarização e depois trabalhar a melhoria da aprendizagem é de uma profunda desumanidade para largos cohorts de população que permanecerão na armadilha dessa transição. Aqui não há lugar para etapismos. Há simplesmente que cuidar que o reforço necessário da escolarização seja efetivo, ou seja, acompanhado de boas condições de aprendizagem. 6 em 10 crianças e adolescentes não terem aproveitamento e não atingirem aprendizagens mínimas é algo de alarmante, suscitando reflexão futura.



Uma interpretação malévola destes dados poderia ser a de que o sistema educativo é um sistema puxado pela despesa e pela oferta e não por resultados. O sistema financiar-se-ia pela escolarização (frequência) e não pela eficácia da atividade letiva, reproduzindo-se em função da despesa pública que consegue justificar e exigir. É uma interpretação malévola porque equivaleria, embora não ignorando os efeitos perversos, a ignorar o trabalho épico de muitos professores a ensinar em condições inimagináveis para um ocidental habituado a ensinar no quentinho ou no fresquinho, no inverno e no verão. Os resultados terão que ver antes com as exigências excessivas que interpelam a escola, quando essas crianças e adolescentes se inserem em péssimas condições comunitárias, todas elas apontadas ao insucesso. Um bom indicador dessa realidade é a percentagem de não aproveitamento aumentar na África sub-Sahariana para cerca de 80%.

(O Guardian tem uma excelente introdução ao tema - link aqui)

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