quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

FORGES




(Forges, Antonio Fraguas de Pablo de seu nome, deixou-nos e com ele fica a memória de um traço inconfundível, pícaro quanto baste, onde me refugiava para perceber a melhor a Espanha que não se encontra nos catálogos e também a sua linguagem inventiva, intratável pelo Google Tradutor. O confronto entre os traços de Forges e de El Roto é inevitável e a eles muito se deve a perceção de que o El País é o “meu jornal”.)

Gosto da Espanha pícara, nas suas inexploradas diversidades territoriais. Só a Espanha pícara nos transporta para o castelhano insondável pelas traduções de pacotilha. Uma Espanha a que certamente não se aplica o que Unanumo dizia pejorativamente dos Portugueses de que são invertebrados. O traço gordo e carregado de Forges transportava-nos correntemente para essa Espanha pícara, a tal que se recusava a falar inglês, com memórias bélicas e secessionistas pesadas. A minha visita regular às suas vinhetas era sempre concretizada em combinação com as de El Roto, porque para mim eram indissociáveis e enriqueciam-se mutuamente. O traço austero e mais fino de El Roto era a visão desapiedada do mundo e das suas contradições a partir da Espanha que não tinha perdido o sentido crítico e os valores da solidariedade. O traço mais gordo e carregado de Forges apontava mais dentro e com essa combinação ganhava a ilusão de que compreenderia melhor a Espanha aqui ao lado.

Forges era também conhecido pela sua espantosa capacidade de criação linguística. Talvez não saibam que, quando nos acercamos daqueles bares espanhóis de tapas em que nos apetece pedir doses de tudo, o camareiro talvez nos sugira as bocata, uma mistura linguística do bocadilho e do sufixo ata. Ora a bocata é uma invenção linguística de Forges. Outros exemplos, tais como “firloyo” ou “tontolculo”.

As vinhetas do El País ficam mais pobres. Ficam alguns exemplos do seu chiste imbatível. Gosto particularmente do chiste sobre Aznar nas eleições galegas dos anos 90, personalidade sobre a qual todos os chistes são preciosos.





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