(Forges, Antonio Fraguas de Pablo de seu nome, deixou-nos e
com ele fica a memória de um traço inconfundível, pícaro quanto baste, onde me
refugiava para perceber a melhor a Espanha que não se encontra nos catálogos e
também a sua linguagem inventiva, intratável pelo Google Tradutor. O
confronto entre os traços de Forges e de El Roto é inevitável e a eles muito se
deve a perceção de que o El País é o “meu jornal”.)
Gosto da Espanha pícara, nas suas inexploradas
diversidades territoriais. Só a Espanha pícara nos transporta para o castelhano
insondável pelas traduções de pacotilha. Uma Espanha a que certamente não se
aplica o que Unanumo dizia pejorativamente dos Portugueses de que são
invertebrados. O traço gordo e carregado de Forges transportava-nos correntemente
para essa Espanha pícara, a tal que se recusava a falar inglês, com memórias bélicas
e secessionistas pesadas. A minha visita regular às suas vinhetas era sempre
concretizada em combinação com as de El Roto, porque para mim eram indissociáveis
e enriqueciam-se mutuamente. O traço austero e mais fino de El Roto era a visão
desapiedada do mundo e das suas contradições a partir da Espanha que não tinha
perdido o sentido crítico e os valores da solidariedade. O traço mais gordo e
carregado de Forges apontava mais dentro e com essa combinação ganhava a ilusão
de que compreenderia melhor a Espanha aqui ao lado.
Forges era também conhecido pela sua
espantosa capacidade de criação linguística. Talvez não saibam que, quando nos
acercamos daqueles bares espanhóis de tapas em que nos apetece pedir doses de
tudo, o camareiro talvez nos sugira as bocata, uma mistura linguística do bocadilho
e do sufixo ata. Ora a bocata é uma invenção linguística de Forges. Outros
exemplos, tais como “firloyo” ou “tontolculo”.
As vinhetas do El País ficam mais pobres. Ficam
alguns exemplos do seu chiste imbatível. Gosto particularmente do chiste sobre Aznar nas eleições galegas dos anos 90, personalidade sobre a qual todos os chistes são preciosos.
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