(Notas sobre o persistente problema de uma economia não
ajustada ao mundo real. É um NOBEL que fala, portando a partir do
interior, não uma crítica exógena.)
Todos os que estudaram e/ou ensinaram economia debateram-se alguma vez com
a incomodidade de trabalharem sobre um mundo ideal, completamente desajustado
do que a economia é na vida real, ou melhor dos comportamentos dos que
inscrevem a sua atividade na economia. Não devemos confundir essa incomodidade
com a falsa perceção de que a teoria é inútil. Sabemos que a teoria implica
sempre uma simplificação da realidade, alguma abstração, caso contrário não
teria qualquer utilidade. A incomodidade é outra. Consiste numa simplificação,
não apenas necessária, mas abusiva, distorcendo a realidade e pretendendo que
esta se amolde aos pressupostos.
Via o infatigável Lars P. Syll nessa denúncia (link aqui), deixo-vos com uma passagem
preciosa do último Nobel de Economia, o pai da economia comportamental. Pode
dizer-se que Thaler não rompe definitivamente o mundo dos ECONS. É verdade. Mas
a distinção entre exceção (ECONS) e regra (os Humanos) é demolidora.
Simplesmente eloquente:
“Vocês
sabem e eu sei que não vivemos num mundo de Econs. Vivemos num mundo de
humanos. E dado que todos os economistas são também humanos, eles também sabem
que não vivem num mundo de Econs …
Apesar
disso, o modelo de comportamento económico baseado numa população composta
apenas por Econs floresceu, erguendo a economia a esse pináculo de influência
em que hoje está. As críticas ao longo dos anos foram ignoradas com uma luva de
desculpas esfarrapadas e pouco plausíveis explicações alternativa com
embaraçosa evidência empírica a suportá-las.
É tempo de
parar com as desculpas. Precisamos de uma abordagem enriquecida para fazer
investigação económica, que reconheça a existência e relevância dos humanos. As
boas notícias são que não precisamos de atirar fora tudo o que sabemos como as
economias e os mercados funcionam. As teorias baseadas no pressuposto de que
toda a gente é um ECON não devem ser descartadas. Elas são úteis como pontos de
partida para modelos mais realistas. E em algumas circunstâncias especiais,
tais como quando os problemas que as pessoas precisam de resolver são fáceis ou
quando os atores na economia têm as pertinentes competências altamente
especializadas, nesses casos os modelos de Econs podem fornecer uma boa
aproximação ao que acontece no mundo real. Mas como veremos, essas situações
são a exceção e não a regra.”
Richard Thaler, MISBEHAVING – The Making of Behavioral Economics
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