terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A PALAVRA DE RICHARD THALER




(Notas sobre o persistente problema de uma economia não ajustada ao mundo real. É um NOBEL que fala, portando a partir do interior, não uma crítica exógena.)

Todos os que estudaram e/ou ensinaram economia debateram-se alguma vez com a incomodidade de trabalharem sobre um mundo ideal, completamente desajustado do que a economia é na vida real, ou melhor dos comportamentos dos que inscrevem a sua atividade na economia. Não devemos confundir essa incomodidade com a falsa perceção de que a teoria é inútil. Sabemos que a teoria implica sempre uma simplificação da realidade, alguma abstração, caso contrário não teria qualquer utilidade. A incomodidade é outra. Consiste numa simplificação, não apenas necessária, mas abusiva, distorcendo a realidade e pretendendo que esta se amolde aos pressupostos.

Via o infatigável Lars P. Syll nessa denúncia (link aqui), deixo-vos com uma passagem preciosa do último Nobel de Economia, o pai da economia comportamental. Pode dizer-se que Thaler não rompe definitivamente o mundo dos ECONS. É verdade. Mas a distinção entre exceção (ECONS) e regra (os Humanos) é demolidora.

Simplesmente eloquente:


“Vocês sabem e eu sei que não vivemos num mundo de Econs. Vivemos num mundo de humanos. E dado que todos os economistas são também humanos, eles também sabem que não vivem num mundo de Econs …

Apesar disso, o modelo de comportamento económico baseado numa população composta apenas por Econs floresceu, erguendo a economia a esse pináculo de influência em que hoje está. As críticas ao longo dos anos foram ignoradas com uma luva de desculpas esfarrapadas e pouco plausíveis explicações alternativa com embaraçosa evidência empírica a suportá-las.

É tempo de parar com as desculpas. Precisamos de uma abordagem enriquecida para fazer investigação económica, que reconheça a existência e relevância dos humanos. As boas notícias são que não precisamos de atirar fora tudo o que sabemos como as economias e os mercados funcionam. As teorias baseadas no pressuposto de que toda a gente é um ECON não devem ser descartadas. Elas são úteis como pontos de partida para modelos mais realistas. E em algumas circunstâncias especiais, tais como quando os problemas que as pessoas precisam de resolver são fáceis ou quando os atores na economia têm as pertinentes competências altamente especializadas, nesses casos os modelos de Econs podem fornecer uma boa aproximação ao que acontece no mundo real. Mas como veremos, essas situações são a exceção e não a regra.”

Richard Thaler, MISBEHAVING – The Making of Behavioral Economics

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