domingo, 4 de fevereiro de 2018

JUSTIÇA EM OVERDOSE



Trata-se certamente de uma coincidência, mas a Justiça entrou em velocidade vertiginosa desde que se puseram a admitir uma eventual não renovação do mandato da Procuradora-Geral da República. Claro que os últimos anos já vinham a ser pródigos na matéria, com os casos protagonizados por Ricardo Salgado e José Sócrates a dominarem, naturalmente, as atenções da opinião pública. Mas, de entre os que mais têm merecido os favores da comunicação social – como sejam os tiros de pólvora seca em torno do ministro das Finanças e dos 14 mil euros de livros e revistas comprados com cartão de crédito público por dois membros do governo Sócrates, uma já por demais vulgarizada referência a processos de significativa lavagem de dinheiro de Angola em Portugal ou a expectativa gerada quanto à investigação que se diz em curso no caso Benfica/emails e às recorrentes insinuações de tráfico de influências por parte do presidente do Sporting –, há dois que antecipadamente devemos dar por relevantes por corresponderem a matérias superlativamente graves e sérias, como diz a canção: o que envolve o juiz Rui Rangel (“Operação Lex”) vai ao extremo de levantar suspeições quanto a tráfego de decisões judiciais, sem prejuízo de também tocar outras pessoas e áreas críticas (o futebol, com Luís Filipe Vieira à cabeça, e Angola/banca, com a indecifrável figura de Álvaro Sobrinho em plano destacado); o que envolve Manuel Vicente e a dupla Carlos Silva/Daniel Proença de Carvalho (“Operação Fizz”) impacta significativamente nas relações entre Portugal e Angola e parece traduzir-se por uma luta sem quartel entre vários tipos de poderosos que marca(ra)m forte e prolongada presença nos negócios e na sociedade nacional, sem prejuízo de também trazerem à liça um ex-procurador e uma conta bancária em seu nome em Andorra. Impossível não se passar por isto tudo a que vimos acedendo ao longo dos últimos anos sem se ficar à bica de perguntar com inteira propriedade onde estava afinal a dimensão de verdade no que vivíamos sem que víssemos que uma linha divisória escondida separava a realidade que conhecíamos e a ficção que desconhecíamos...

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