(Este formato que a televisão portuguesa tem assumido de
confronto entre comentadores à esquerda e à direita (ou pretensamente
entendidos como tal) tem gerado o efeito perverso de disseminar papagaios, como
aqueles que povoam o arvoredo dos jardins da Foz no Porto. A perversidade
é que em muitos casos o confronto não significa de todo melhor esclarecimento… )
Hoje, circunstancial e excecionalmente, detive-me mais do que o habitual no
Tudo é Economia da RTP 3 em horas de almoço (link aqui). A razão principal foi a excelente entrevista
com o Chefe Avillez e sobre a organização do seu já vasto negócio gastronómico.
Excelente e aprendizagem preciosa sobre o apuro do modelo de gestão que a escala
do negócio implica. A televisão no seu melhor. É sempre assim. As pessoas fazem
os conteúdos e Avillez tem a inteligência e a sobriedade necessárias a um
programa de televisão que traz da gastronomia portuguesa de topo algo de mais
profundo do que a sedução do charme da nova gastronomia.
Embalado por esta boa experiência, detive-me alguns instantes no Choque de Ideias, protagonizado por Ricardo
Arroja e Ricardo Mamede, sobretudo sobre o tema da bolsa, ou seja, afinal o que
é que as bolsas nos quiseram dizer esta semana que passou?
Tenho a pior impressão destes confrontos pretensamente igualitários do
ponto de vista das ideias. Têm contribuído para a disseminação descontrolada de
papagaios das ideias, o que não significa capacidade de esclarecimento. Entre
outras razões, porque o critério do confronto é simplista e não traz para o
debate nem o conhecimento mais profundo nem a representatividade das
perspetivas e paradigmas de análise. E assim se passa com o presente caso. Ricardo
Mamede pretensamente a representar o grupo dos economistas de esquerda, mais
propriamente Bloco ou Ladrão de Bicicletas. Ricardo Arroja pretensamente a representar
a economia mais ortodoxa, liberal ou monetarista como lhe queiram chamar. Em
meu entender, mais dois papagaios.
A Ricardo Mamede não se conhece pensamento especializado sobre os mercados
financeiros, por isso uma de duas, ou se socorre de referências que nos
garantam credibilidade ou então espraia-se por banalidades de jornalismo económico,
como me parece ter sido o caso. A Ricardo Arroja reconhece-se pelo menos proximidade
ao setor, mas ouvir que a situação da semana passada é produto da política monetária
dos últimos tempos arrepia qualquer um. Valeria ao economista Arroja pensar duas
vezes sobre o que significa o “zero lower
bound”, o universo da permanência das taxas de juro baixas, nulas ou
negativas. Produto da política monetária ou reflexo de uma situação estrutural
que a política monetária é, por si só, incapaz de resolver?
Papagaios já há demais por aí. Poupem-nos o efeito perverso de tanta ave
canora.
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