(Estou por vezes em desacordo com Francisco Assis, mas
reconheço-lhe coerência e coragem políticas. Neste caso, das listas transnacionais
ontem rejeitadas pelo Parlamento Europeu, alinho com as suas posições. Mais
do que a rejeição em si, o festim nacionalista na argumentação inspira-me
preocupação.)
Francisco Assis tem hoje no Público um excelente artigo de opinião (link aqui), de
cujas linhas de argumentação me aproximo, o que nem sempre acontece. O tema é o
das listas transnacionais para o Parlamento Europeu, que coexistiriam segundo
percebi com listas nacionais nos moldes atuais, sem impacto no número de
deputados que estariam à disposição dos países da União.
Muito sinceramente e com a convicção que corro o sério risco de fazer emergir
a minha ingenuidade política nestas matérias, espantou-me o coro de reprovações
que tal hipótese suscitou na nossa praça, sobretudo à direita. Pouco faltou
para que o Paulo Rangel fizesse greve de fome à porta do Parlamento Europeu no
sentido de defender a rejeição, que o plenário do PE acabou por ratificar. E se
o PS oscilou na abordagem ao tema, é a primeira vez que interpreto essa oscilação
como um fator positivo.
Na argumentação de Assis destaco sobretudo a sua conceção evolutiva e
construtivista do projeto Europeu, algo que está a milhas da conceção estática e
presa de movimentos que tem predominado nos múltiplos pronunciamentos sobre a
encruzilhada em que a Europa se colocou, por culpa própria. A pretexto da
defesa da palavra dos Parlamentos nacionais, que teria de ser coerente e não
ser objeto de contínuas e diversificadas projeções populistas de que estaremos
a financiar um conjunto de mandriões, lobistas e defensores de causas próprias
e das suas vidinhas, muita gente não escapa à tentação do nacionalismo. Pois na
arrebatada defesa da rejeição das listas transnacionais, vi sobretudo esse
nacionalismo encapotado, o que para a reflexão sobre o futuro do País é
companhia que não me agrada, acreditando eu nos ensinamentos da história e na
regularidade da importância das forças exógenas no desenvolvimento de Portugal.
Aliás, as listas transnacionais equivaleriam a uma experimentação, em dialética
com a dinâmica das listas nacionais, cuja relação e proximidade com os cidadãos
portugueses tem que se lhe diga.
Imagino-me facilmente a votar em alguma lista transnacional que se focasse
na defesa de alguns princípios e conquistas do que entendo ser o modelo europeu
que me interessa preservar. Aliás, gostaria de perguntar aos que se sentiram
atingidos no seu “portuguesismo”, balofo ou sincero, se algumas listas
nacionais no PE de países com derivas fascizantes e ameaçadoras do espírito de
tolerância europeu não são mais aterrorizadoras do que as transnacionais.
Moral da história: o populismo nacionalista, que sempre fez a guerra, afirma-se
hoje por via direta, através dos movimentos eleitos com base nesse ideário, mas
também por via indireta e não menos influente, condicionando o pensamento político
dos que afirmam rejeitar esse populismo. O futuro está nebulado, e com nuvens
espessas e carregadas.
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