(Já por repetidas vezes, o pensamento e obra de Angus Deaton,
Nobel de Economia, estiveram em destaque neste espaço de reflexão. A sua
entrevista ao PRO-MARKET, blogue do Stigler Center da Chicago Booth School, é uma
oportunidade para reatar essa já tradição, tendo em conta que o Stigler
Center e a Chicago Booth School são templos do pensamento liberal e Deaton não é
propriamente um deles. Alguma coisa se passa… )
O PRO-MARKET trabalha segundo uma distinção que é para mim sugestiva, embora
muito boa gente não lhe preste a mínima atenção. A distinção assenta na máxima,
sobretudo divulgada por um dos seus economistas, Luigi Zingales, de que uma coisa
é ser pro-market, outra bem diferente
é ser pro-business. Subtil, mas mais
importante do que se pensa.
Por outro lado, o PRO-MARKET é o espaço de blogue do STIGLER CENTER da Chicago Booth School e aqui estamos
conversados. Sabemos o que pensam e o que prosseguem. Ignorá-los é erro.
Pois, este espaço de blogue acaba no passado dia 8 de fevereiro de 2018 de
publicar uma sugestiva entrevista com o Nobel Angus Deaton (link aqui), um dos grandes
estudiosos, com a sua mulher Anne Case, da pobreza nos EUA. O trabalho dos dois
economistas abanou as boas e as más consciências americanas quando publicou
investigação robusta que mostra que os chamados “mortos do desespero” abrangem
indivíduos brancos não hispânicos de meia-idade, com taxas elevadas de suicídio
e morte por consumo descontrolado de álcool e drogas. Graças a esse trabalho,
hoje é conhecido que os EUA são a pior sociedade desenvolvida em termos de
mortalidade e de morbilidades associadas aqueles fenómenos. Ora a entrevista
relaciona os fenómenos de desigualdade que estão na origem de tais fenómenos
com o facto da economia americana ser hoje cada vez mais uma sociedade capturada,
ou como dizem os economistas, uma economia rent-seeking,
com fraco desempenho no seu combate e regulação.
A disseminação dos comportamentos de rent-seeking
que Deaton considera bastante mais prováveis e intensos nos EUA do que na Europa
é demonstrável através dos processos comparados de entrada na vida politica nos
EUA e na Europa. A monopolização da economia e a concentração das indústrias e
dos serviços em conjuntos poderosos de forças influentes e dominadoras estão na
base da captura pelos 1% e 0,1% mais ricos da sociedade dos efeitos
distributivos e também nas suas consequências sobre o mundo do trabalho. A investigação
de Deaton e Case mostrou que os “mortos do desespero de meia- idade” estavam associados
a processos de estagnação considerável dos salários a longo prazo, em que designadamente
o sistema de saúde americano surge como um dos principais responsáveis desse
afunilamento da sociedade.
Deaton afirma sem peias ao longo da entrevista que os “rent seekers” atuam com melhor desempenho nos EUA do que na Europa,
a ponto de um deles ter chegado à Casa Branca. Na linguagem do PRO-MARKET a
economia tende perigosamente para uma economia pro-business.
Em jeito de síntese, diremos que apesar das reversões da geringonça, a
força do que aconteceu em Portugal de 2012 a 2014 nos aproximou mais dos EUA do
que da Europa. A energia e as telecomunicações foram um antro privilegiado para
rent-seekers à solta. Acontece que
alguns rent-seekers se espalharam ao
comprido nas malhas da captura de interesses e do desvario (PT e seus sequazes).
Inferno para a sua alma económica. Mas há outros mais resistentes.
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