(O futebol português está vertiginosamente a transformar-se
num terreno movediço, direi mesmo pantanoso. Até aqui, interessou-me na perspetiva
de um jogo de estratégia. É tempo de abrir uma nova coluna neste blogue.
O futebol é cada vez mais espaço de manifestação de patologias e desvios do modelo
social e económico. Não é mundo para atletas vulneráveis e frágeis entregues à
sua sorte ou a empresários que fazem parte do problema. Rúben Semedo é um
exemplo trágico do que estou a tentar caracterizar.
A esta hora, um atleta
de elevado potencial competitivo, está entregue à sorte de uma prisão
preventiva e sobretudo parte voluntária ou involuntária (iremos sabê-lo em
breve) de uma trama que pode ser trágica para a sua carreira, de proximidade a um
mundo duvidoso, paredes meias com a ilegalidade e com o crime. Pode dizer-se
que a reconstrução de algumas histórias de vida de desportistas e de jovens
futebolistas em particular nos coloca perante trajetórias que só por mera sorte
não descambam para vidas de exclusão e de contacto direto ou indireto com o crime.
Quando se analisa a composição das equipas da formação dos nossos principais
emblemas é fácil perceber como muitos daqueles atletas estão no limbo de um
certo deslumbramento que, nuns casos, será objeto de gestão cuidadosa, noutros
casos será fonte de caminhos conturbados, de glória efémera, que um dia acaba
na exclusão e na diversidade de patologias sociais que a rodeiam. Vá lá saber-se
por que razão uns são conduzidos ao estrelato, a valores impensáveis de
remuneração e outros se arrastam nas equipas de escalões inferiores, senão apanhados
nas malhas do ilícito ou do crime. Será que as características intrínsecas do
seu potencial físico e técnico são suficientes para explicar trajetórias tão
divergentes de vida futebolística? Ou estaremos perante a simples ditadura do
aleatório, de passar pelo ponto certo ou errado de uma engrenagem cada vez mais
complexa e sem escrúpulos?
Até aqui sempre tive a
convicção de que o desporto em geral e o futebol em particular eram alavancas
poderosas de saída da exclusão para muitos jovens. Pela complexidade que as máquinas
do futebol começam a apresentar, não estou tão certo que essa conclusão seja tão
clara ou determinada. Espero que me engane mas o caso de Rúben Semedo corre o risco
de reforçar o meu ceticismo.
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