quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

RÚBEN SEMEDO




(O futebol português está vertiginosamente a transformar-se num terreno movediço, direi mesmo pantanoso. Até aqui, interessou-me na perspetiva de um jogo de estratégia. É tempo de abrir uma nova coluna neste blogue. O futebol é cada vez mais espaço de manifestação de patologias e desvios do modelo social e económico. Não é mundo para atletas vulneráveis e frágeis entregues à sua sorte ou a empresários que fazem parte do problema. Rúben Semedo é um exemplo trágico do que estou a tentar caracterizar.

A esta hora, um atleta de elevado potencial competitivo, está entregue à sorte de uma prisão preventiva e sobretudo parte voluntária ou involuntária (iremos sabê-lo em breve) de uma trama que pode ser trágica para a sua carreira, de proximidade a um mundo duvidoso, paredes meias com a ilegalidade e com o crime. Pode dizer-se que a reconstrução de algumas histórias de vida de desportistas e de jovens futebolistas em particular nos coloca perante trajetórias que só por mera sorte não descambam para vidas de exclusão e de contacto direto ou indireto com o crime. Quando se analisa a composição das equipas da formação dos nossos principais emblemas é fácil perceber como muitos daqueles atletas estão no limbo de um certo deslumbramento que, nuns casos, será objeto de gestão cuidadosa, noutros casos será fonte de caminhos conturbados, de glória efémera, que um dia acaba na exclusão e na diversidade de patologias sociais que a rodeiam. Vá lá saber-se por que razão uns são conduzidos ao estrelato, a valores impensáveis de remuneração e outros se arrastam nas equipas de escalões inferiores, senão apanhados nas malhas do ilícito ou do crime. Será que as características intrínsecas do seu potencial físico e técnico são suficientes para explicar trajetórias tão divergentes de vida futebolística? Ou estaremos perante a simples ditadura do aleatório, de passar pelo ponto certo ou errado de uma engrenagem cada vez mais complexa e sem escrúpulos?

Até aqui sempre tive a convicção de que o desporto em geral e o futebol em particular eram alavancas poderosas de saída da exclusão para muitos jovens. Pela complexidade que as máquinas do futebol começam a apresentar, não estou tão certo que essa conclusão seja tão clara ou determinada. Espero que me engane mas o caso de Rúben Semedo corre o risco de reforçar o meu ceticismo.

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