sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

DIZ QUEM SABE!




(Já todos se aperceberam que tenho, em matérias financeiras, um fraquinho, diria mesmo um fracão, pela jornalista Gillian Tett, curiosamente muito parecida com um outro dos meus fetiches - Gillian Anderson dos X Files. Embora atavicamente nunca invista em bolsa, presto-lhe toda a minha atenção.)

O cântaro tantas vezes vai à fonte que um dia acaba por partir. É o que muita gente vinha dizendo, alertando para a euforia reinante nos mercados e os riscos que isso implica. Dos analistas até ao Nobel Shiller todos o tinham referido. Isso não significa que o partir do cântaro produza impacto suficiente para gerar uma réplica de 2007-2008. Não há esse determinismo, mas convém estar atento.

Clara e direta como sempre, Gillian Tett avisa-nos (link aqui):

O mundo financeiro enfrenta pelo menos três desafios, com ecos do passado: o dinheiro barato alimentou um crescimento da alavancagem; as baixas taxas de juro estimularam também a engenharia financeira; e os reguladores estão a sentir dificuldade em monitorizar os riscos, em parte porque estão demasiadamente fragmentados”.

Haverá alguém capaz de ser mais direto e conciso? Duvido.

Este excerto de Tett tem para além da sua concisão uma estranha apetência para nos projetarmos no que se passa entre muros. Deixei de comprar há muito tempo a ideia muito divulgada de que a economia americana não pode ser extrapolada para as nossas vidinhas. Puro engano. E por isso lhe tenho dedicado tanta atenção e não é apenas pelo efeito Trump.

No artigo que acompanha a minha reflexão, Gillian Tett confronta-nos com alguns números, que convém reter para memória futura:

·        Segundo o BIS (Bank of International Settlements), a dívida global mundial em percentage do PIB mundial aumentou 40% em 10 anos, ou seja desde a crise;
·        A Standard and Poor’s estima que a dívida global das empresas não financeiras aumentou em 6 anos apenas de 15% para 96% do PIB, estimando-se que hoje existirão cerca de 37% das empresas altamente alavancadas, para 32% em 2007;
·        Os yields a 10 anos dos títulos do tesouro já passou os 2,8%;
·        E, finalmente, 90% do trade financeiro faz-se por automatismos geradospor algoritmos computadorizados, ou seja, o velho mundo do trade não representa mais do que 10%.

Moral da história: o capitalismo nunca deixou de ser irracional e exuberante e a digitalização parece prolongar o pecado original. Eu não jogo na bolsa. Atavismo? Talvez. Mas talvez mais reconhecimento da ignorância prática.

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