(Nuno Botelho para o Expresso)
(Os dados que o Expresso Economia hoje publica sobre os resultados
da existência da Instituição Financeira de Desenvolvimento são arrasadores para
uma iniciativa que marcava a diferença no Portugal 2020. Atrevo-me a
designar tudo isto pelo “mistério de um flop”… )
Tenho conflito de
interesses nesta matéria. Sou amigo do chairman da IFD, mas também posso dizer
que nunca falei deste assunto com o Professor Alberto Castro, um dos poucos que
subsiste da administração nomeada, que viu cair um a um grande parte dos seus
administradores executivos, a começar pela presidência executiva. Por isso, limito-me,
sem qualquer informação privilegiada, a confrontar os resultados que considero arrasadores
que decorrem da reportagem do Público com as expectativas que rodearam a programação
da iniciativa, apresentada como uma grande novidade. E limito-me a manifestar a
minha perplexidade pois não captei nenhuma tentativa de explicação do flop observado, o que é ainda mais
intrigante do que a debilidade dos resultados alcançados.
A IFD tem uma história
atribulada, vulgarmente confundida com o badalado projeto do Banco de Fomento para
a economia, a propósito do qual surgiram então notícias de abordagens preparatórias
com instituições alemãs, putativamente inspiradoras da solução. E é uma história
atribulada, porque essencialmente anda ligada a um dos domínios de programação
do PT 2020 pior negociados, a questão dos instrumentos financeiros. Num período
de programação que se designava de 2014-2020, os sucessivos atrasos, hoje ainda
não totalmente colmatados, na sua implementação constituem um dos mais
desleixados atrasos de programação, revelando quão incompetente foi a negociação
e tão submissa foi a imposições de Bruxelas só para marcar a presença dos instrumentos
financeiros na programação.
O estado da arte de aplicação
dos 3 instrumentos financeiros geridos pela IFD, representada na pose do Secretário
de Estado Paulo Alexandre Ferreira, é arrasador: 78 milhões de crédito bancário
aproveitado de 1.000 milhões de euros disponíveis; 2,5 milhões de 93,3 milhões
de euros disponíveis de capital de risco e 3,9 milhões aproveitados de Business
Angels de 18,1 milhões disponíveis. A calma olímpica com que o secretário de
Estado olha compreensivo e distante para o desequilíbrio entre o que se oferecia
e a procura manifestada é, em si, mais misteriosa do que o próprio flop da procura. E no meio da entrevista
lê-se que “as empresas não conhecem o portfólio de produtos que têm à sua
disposição”. Custa-me ver tanta irresponsabilidade e encolher de ombros. Mas
afinal quem é que tinha a responsabilidade de fazer chegar a mensagem às
empresas? Será apenas um problema de comunicação ou haverá nos produtos
oferecidos características que não se amoldam à procura potencial? Já alguém
discutiu esta matéria com representantes empresariais? Apetece-me dizer que o
Ministério da Economia se apresenta no seu melhor de irrelevância.
O meu espanto aumenta
quando confronto os títulos do Expresso: a IFD perde dinheiro no PT 2020 e
ganha força no Portugal 2030. Acho que devem estar a brincar com o pagode. Ou seja,
não há uma explicação coerente do que é que falhou na questão dos instrumentos
financeiros para as empresas, pelo menos não é pública, certamente para não
beliscar responsabilidades. E mesmo assim a Comissão Europeia parece avançar
para o reforço da sua incidência no PT 2030. Pelo menos no que diz respeito ao
capital de risco, já passaram pela minha vida profissional vários períodos de
programação e não houve um em que ele não fosse um fracasso. Não será tempo de
perceber porquê?
Certamente que os
sucessivos abandonos da administração da IFD estarão relacionados com este gap
entre oferta e procura. Mas como diziam os saudosos Gatos Fedorentos “ninguém
explica”. O amigo Alberto Castro terá de explicar-me um dia toda esta baralhada
que, pelos vistos, seguirá dentro de momentos no PT 2030.
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