sábado, 17 de fevereiro de 2018

UM FLOP E NINGUÉM EXPLICA PORQUÊ!

(Nuno Botelho para o Expresso)


(Os dados que o Expresso Economia hoje publica sobre os resultados da existência da Instituição Financeira de Desenvolvimento são arrasadores para uma iniciativa que marcava a diferença no Portugal 2020. Atrevo-me a designar tudo isto pelo “mistério de um flop”… )

Tenho conflito de interesses nesta matéria. Sou amigo do chairman da IFD, mas também posso dizer que nunca falei deste assunto com o Professor Alberto Castro, um dos poucos que subsiste da administração nomeada, que viu cair um a um grande parte dos seus administradores executivos, a começar pela presidência executiva. Por isso, limito-me, sem qualquer informação privilegiada, a confrontar os resultados que considero arrasadores que decorrem da reportagem do Público com as expectativas que rodearam a programação da iniciativa, apresentada como uma grande novidade. E limito-me a manifestar a minha perplexidade pois não captei nenhuma tentativa de explicação do flop observado, o que é ainda mais intrigante do que a debilidade dos resultados alcançados.

A IFD tem uma história atribulada, vulgarmente confundida com o badalado projeto do Banco de Fomento para a economia, a propósito do qual surgiram então notícias de abordagens preparatórias com instituições alemãs, putativamente inspiradoras da solução. E é uma história atribulada, porque essencialmente anda ligada a um dos domínios de programação do PT 2020 pior negociados, a questão dos instrumentos financeiros. Num período de programação que se designava de 2014-2020, os sucessivos atrasos, hoje ainda não totalmente colmatados, na sua implementação constituem um dos mais desleixados atrasos de programação, revelando quão incompetente foi a negociação e tão submissa foi a imposições de Bruxelas só para marcar a presença dos instrumentos financeiros na programação.

O estado da arte de aplicação dos 3 instrumentos financeiros geridos pela IFD, representada na pose do Secretário de Estado Paulo Alexandre Ferreira, é arrasador: 78 milhões de crédito bancário aproveitado de 1.000 milhões de euros disponíveis; 2,5 milhões de 93,3 milhões de euros disponíveis de capital de risco e 3,9 milhões aproveitados de Business Angels de 18,1 milhões disponíveis. A calma olímpica com que o secretário de Estado olha compreensivo e distante para o desequilíbrio entre o que se oferecia e a procura manifestada é, em si, mais misteriosa do que o próprio flop da procura. E no meio da entrevista lê-se que “as empresas não conhecem o portfólio de produtos que têm à sua disposição”. Custa-me ver tanta irresponsabilidade e encolher de ombros. Mas afinal quem é que tinha a responsabilidade de fazer chegar a mensagem às empresas? Será apenas um problema de comunicação ou haverá nos produtos oferecidos características que não se amoldam à procura potencial? Já alguém discutiu esta matéria com representantes empresariais? Apetece-me dizer que o Ministério da Economia se apresenta no seu melhor de irrelevância.

O meu espanto aumenta quando confronto os títulos do Expresso: a IFD perde dinheiro no PT 2020 e ganha força no Portugal 2030. Acho que devem estar a brincar com o pagode. Ou seja, não há uma explicação coerente do que é que falhou na questão dos instrumentos financeiros para as empresas, pelo menos não é pública, certamente para não beliscar responsabilidades. E mesmo assim a Comissão Europeia parece avançar para o reforço da sua incidência no PT 2030. Pelo menos no que diz respeito ao capital de risco, já passaram pela minha vida profissional vários períodos de programação e não houve um em que ele não fosse um fracasso. Não será tempo de perceber porquê?

Certamente que os sucessivos abandonos da administração da IFD estarão relacionados com este gap entre oferta e procura. Mas como diziam os saudosos Gatos Fedorentos “ninguém explica”. O amigo Alberto Castro terá de explicar-me um dia toda esta baralhada que, pelos vistos, seguirá dentro de momentos no PT 2030.

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