quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

DEMOCRACIA NÃO LIBERAL VERSUS LIBERALISMO NÃO DEMOCRÁTICO)




(A evolução da obra de Dani Rodrik, com uma forte proximidade entre a ciência económica e a ciência política, não pode deixar de ser saudada como uma forma saudável de compreender o nosso tempo político e as suas derivas. Os diferentes tipos de populismo e a força desproporcionada de algumas tecno-burocracias estão aí à espera para serem compreendidas e combatidas… )

Não é por acaso que Dani Rodrik tem estado permanentemente sob a atenção deste blogue. Ele é um dos economistas que, para além de ter compreendido bem cedo os limites da globalização, mais tem trabalhado os temas do populismo e do populismo económico em particular. É, por isso, um economista do seu tempo, em linha com os seus desafios, não se escondendo por detrás de uma ciência assética e impondo uma linha vermelha artificial entre a economia e a política.

Rodrik designa os diferentes tipos de populismos que brotam por aí como exemplos de uma democracia não liberal. Em suma, o aparente respeito pelo jogo eleitoral coexiste com um sistemático desprezo e falta de respeito pelos direitos das minorias. A sociedade que Trump pretende generalizar é exemplo de uma democracia não liberal, podendo mesmo questionar-se que tipo de democracia será essa, tamanhas são as atrocidades e barbaridades sugeridas, com aparente respaldo de bases eleitorais.

Pois na perspetiva de Rodrik (artigo no Project Syndicate) a democracia não está apenas ameaçada por essa deriva. Há uma outra que ele designa de liberalismo não democrático, com o exemplo das instituições comunitárias dos últimos tempos como principal manifestação. Neste caso, a dimensão liberal reforça-se à custa da não democraticidade, principalmente através de um grande afastamento face às populações. Rodrik traz para o debate uma apresentação do novo livro de ciência política de Yascha Mounk, The People vs. Democracy, ao qual, fica prometido, dedicarei oportunamente alguma atenção. Aproveita também para recordar o seu trabalho (conjuntamente com Sharun Mukand): o paper NBER “The Political Economy of Liberal Democracy” (link aqui).

É para mim retribuidor que a identificação das duas ameaças ou derivas a que as democracias ocidentais estão hoje submetidas se deva a um economista que não rejeita evoluir nesse sentido e direção. É também um sinal de que a “economia política” não é uma múmia de estante.

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