(A evolução da obra de Dani Rodrik, com uma forte proximidade
entre a ciência económica e a ciência política, não pode deixar de ser saudada como
uma forma saudável de compreender o nosso tempo político e as suas derivas.
Os diferentes tipos de populismo e a força desproporcionada de algumas tecno-burocracias
estão aí à espera para serem compreendidas e combatidas… )
Não é por acaso que Dani
Rodrik tem estado permanentemente sob a atenção deste blogue. Ele é um dos economistas
que, para além de ter compreendido bem cedo os limites da globalização, mais
tem trabalhado os temas do populismo e do populismo económico em particular. É,
por isso, um economista do seu tempo, em linha com os seus desafios, não se
escondendo por detrás de uma ciência assética e impondo uma linha vermelha artificial
entre a economia e a política.
Rodrik designa os diferentes
tipos de populismos que brotam por aí como exemplos de uma democracia não
liberal. Em suma, o aparente respeito pelo jogo eleitoral coexiste com um
sistemático desprezo e falta de respeito pelos direitos das minorias. A
sociedade que Trump pretende generalizar é exemplo de uma democracia não liberal,
podendo mesmo questionar-se que tipo de democracia será essa, tamanhas são as atrocidades
e barbaridades sugeridas, com aparente respaldo de bases eleitorais.
Pois na perspetiva de
Rodrik (artigo no Project Syndicate) a democracia não está apenas ameaçada por
essa deriva. Há uma outra que ele designa de liberalismo não democrático, com o
exemplo das instituições comunitárias dos últimos tempos como principal
manifestação. Neste caso, a dimensão liberal reforça-se à custa da não democraticidade,
principalmente através de um grande afastamento face às populações. Rodrik traz
para o debate uma apresentação do novo livro de ciência política de Yascha Mounk,
The
People vs. Democracy, ao qual, fica prometido, dedicarei oportunamente
alguma atenção. Aproveita também para recordar o seu trabalho (conjuntamente com
Sharun Mukand): o paper NBER “The Political Economy of Liberal Democracy” (link aqui).
É para mim retribuidor que
a identificação das duas ameaças ou derivas a que as democracias ocidentais estão
hoje submetidas se deva a um economista que não rejeita evoluir nesse sentido e
direção. É também um sinal de que a “economia política” não é uma múmia de
estante.
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