(O discurso do estado da União respeita o princípio trumpiano
de que eu construo a verdade, não os factos ou as evidências. Em matéria
económica, há uma clara construção fantasiosa)
Numa pesquisa simples de dicionários on
line, encontrei este chorrilho de sinónimos para trampolineiro, uma palavra
que sempre me vem à memória quando ouço a verborreia trumpiana (por ordem alfabética):
Ardiloso; Embusteiro; Falaz; Impostor; Intrujão; Mentiroso; Patranheiro; Trapaceiro;
Velhaco. Chega?
Simon Johnson no Project Syndicate (link aqui) tem a mira afinada quando pega nos resultados
económicos do ano de 2017, o primeiro de influência Trump, para sublinhar que toda
a projeção simultaneamente protecionista e libertadora que a campanha de Trump
acenou para a economia deixa muito a desejar em comparação com administrações
anteriores. Não esquecer, ainda, que o contexto de 2017 é a nível mundial bem
mais favorável do que o observado no último mandato de Obama. Apesar disso, as
sucessivas revisões em baixa do crescimento económico observadas ao longo dos quatro
trimestres fez descer o crescimento anual para 2,3%, abaixo dos dois últimos
anos da administração Obama, com 2,6 e 2,9% (2014 e 2015). O confronto com outras
administrações no passado é ainda mais confrangedor, mas tal comparação levar-nos-ia
a outros fatores, já anotados neste blogue em torno das fracas perspetivas de
crescimento mundial (estagnação secular e outros temas associados).
Para além do American Divide que
Trump omitiu ardilosamente no seu discurso, e que destrói o mito do Americam
Dream que o descaramento trumpiano não hesitou em trazer para o centro do discurso,
o desempenho em termos de crescimento económico está longe de ser arrebatador. Isto
mostra que na economia americana o blá-blá
da persistente desregulação e a famigerada queda de impostos para os mais ricos
que Trump conseguiu finalmente fazer passar é praticamente residual em termos
de efeitos sobre a aceleração do crescimento económico. Não é coisa pouca esta
conclusão, tirada para uma economia que todos diriam talhada para responder a
tais estímulos. Mas os resultados são os que estão disponíveis. Isso significa
que devemos ponderar bem a euforia desregulamentadora e os passos na descida da
carga fiscal, sobretudo a sua real incidência. E em matéria de ataque aos
acordos de comércio Trump tem latido muito mas as mordidelas são de bicho
caseiro e de estimação, não de bicho agressivo e demolidor como se apresenta.
Um cidadão incauto e desprevenido, como o são regra geral os suportes do
populismo menos elaborado, que ouvisse o discurso do estado da União construiria
uma representação totalmente distinta do abalo Trump na economia.
Pura arte de trampolineiro.
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