quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

TRUMP(OLINEIRO)




(O discurso do estado da União respeita o princípio trumpiano de que eu construo a verdade, não os factos ou as evidências. Em matéria económica, há uma clara construção fantasiosa)

Numa pesquisa simples de dicionários on line, encontrei este chorrilho de sinónimos para trampolineiro, uma palavra que sempre me vem à memória quando ouço a verborreia trumpiana (por ordem alfabética): Ardiloso; Embusteiro; Falaz; Impostor; Intrujão; Mentiroso; Patranheiro; Trapaceiro; Velhaco. Chega?

Simon Johnson no Project Syndicate (link aqui) tem a mira afinada quando pega nos resultados económicos do ano de 2017, o primeiro de influência Trump, para sublinhar que toda a projeção simultaneamente protecionista e libertadora que a campanha de Trump acenou para a economia deixa muito a desejar em comparação com administrações anteriores. Não esquecer, ainda, que o contexto de 2017 é a nível mundial bem mais favorável do que o observado no último mandato de Obama. Apesar disso, as sucessivas revisões em baixa do crescimento económico observadas ao longo dos quatro trimestres fez descer o crescimento anual para 2,3%, abaixo dos dois últimos anos da administração Obama, com 2,6 e 2,9% (2014 e 2015). O confronto com outras administrações no passado é ainda mais confrangedor, mas tal comparação levar-nos-ia a outros fatores, já anotados neste blogue em torno das fracas perspetivas de crescimento mundial (estagnação secular e outros temas associados).

Para além do American Divide que Trump omitiu ardilosamente no seu discurso, e que destrói o mito do Americam Dream que o descaramento trumpiano não hesitou em trazer para o centro do discurso, o desempenho em termos de crescimento económico está longe de ser arrebatador. Isto mostra que na economia americana o blá-blá da persistente desregulação e a famigerada queda de impostos para os mais ricos que Trump conseguiu finalmente fazer passar é praticamente residual em termos de efeitos sobre a aceleração do crescimento económico. Não é coisa pouca esta conclusão, tirada para uma economia que todos diriam talhada para responder a tais estímulos. Mas os resultados são os que estão disponíveis. Isso significa que devemos ponderar bem a euforia desregulamentadora e os passos na descida da carga fiscal, sobretudo a sua real incidência. E em matéria de ataque aos acordos de comércio Trump tem latido muito mas as mordidelas são de bicho caseiro e de estimação, não de bicho agressivo e demolidor como se apresenta.

Um cidadão incauto e desprevenido, como o são regra geral os suportes do populismo menos elaborado, que ouvisse o discurso do estado da União construiria uma representação totalmente distinta do abalo Trump na economia.

Pura arte de trampolineiro.

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