(Não sou propriamente um maluquinho das estatísticas. Mas, por vezes, há um
número ou outro que vale a pena. É algo que sempre conforta quando o tema do post não emerge com a facilidade com que normalmente acontece.)
A informação estatística tem evoluído
significativamente em qualidade, diversidade, fiabilidade e acessibilidade. A
nossa relação com os dados foi revolucionada e a chamada preguiça estatística,
aquela que se traduz nos frequentes “a informação não existe” ou “não vale a
pena dada a sua inacessibilidade”, tem agora mais dificuldade em
autojustificar-se. E não estou a falar apenas dos sistemas estatísticos
oficiais, com a carga de produção e organização que é conhecida, reportando-nos
ao exemplo nacional INE. Estou a referir-me também a poderosas bases de dados,
elaboradas com recurso entre outra informação à informação oficial, mas
combinando outras fontes, que como o PORDATA têm a virtude de proporcionar uma
navegação bem mais fácil e menos custosa em termos de tempo de acesso e
perceção de como está organizada. A nível internacional, há inúmeras bases à
espera da nossa curiosidade, regra geral alimentadas por “think-tanks” respeitáveis, entre os quais universidades ou grupos
de investigação que, com apoio de algum financiamento benemérito, proporcionam
tratamentos riquíssimos de informação. Externalidades positivas significativas
são produzidas, medidas sobretudo pela redução de tempo com que investigadores
e gente reflexiva pode mobilizar dados de suporte. Já aqui por diversas vezes
referi o exemplo do Our World Data de Max Roser
(link aqui), uma preciosidade para determinados temas, como os da demografia,
da pobreza, desigualdade e outros temas.
Nas curiosidades de verão que podem resolver
o problema do post em branco e que me
vão chegando, o KNOEMA, com versão em
português (link aqui) tem a particularidade de produzir informação que não é
nada frequente encontrar em sistemas estatísticos mais tradicionais.
A última curiosidade que me chegou é a de um
estudo realizado pela RAND CORPORATION para cinco economias OCDE sobre os
custos da falta de sono em termos de crescimento económico. Vá lá saber-se que
metodologia é seguida para chegar a tal conclusão comparativa, mas imagino que
se trate de estratificar a população segundo os seus padrões de sono, associar
a cada grupo uma produtividade e retirar daí as implicações.
O gráfico que abre o post sistematiza os principais resultados e confirma a nossa
intuição de que os japoneses dormem pouco, coitados.
Saio de consciência mais tranquila desta
reflexão, sobretudo a partir do momento em que os meus hábitos de sono parecem
contrariar a vulgata de que os mais velhos tendem a dormir menos. Quase nos 70,
sete a oito horas de sono é o mínimo para ter os neurónios e as pernas em
condições, o que de acordo com a filosofia do estudo diminuirá os efeitos
penalizadores sobre o PIB. Ou seja, quando nos tempos mais vertiginosos da
minha vida académica e profissional dormia 5 horas no máximo, ao contrário do
que poderia então pensar não estaria a contribuir mais positivamente para o PIB
antes pelo contrário.
Como é óbvio estas deduções são falsas. É que
a relação entre o micro (os efeitos das minhas horas de sono) e o macro (os
resultados do estudo para o crescimento económico de um país) não se alimenta
de uma simples aditividade. Aliás também como os não keynesianos falham
irredutível e largamente quando discutem a macroeconomia a partir da
generalização de uma relação entre receitas e despesas de uma dona de casa ou de
uma família.
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