segunda-feira, 27 de agosto de 2018

JOHN MCCAIN



(A vertiginosa deriva em que a sociedade e a política americana estão mergulhadas concedem à morte de Joe McCain um significado muito para além de se lamentar o desaparecimento de uma vida humana. Nos tempos que correm, a saída de cena de McCain tem algo de simbólico sobre a desagregação do partido Republicano à luz da plutocracia populista)

A morte de John McCain é aqui assinalada apenas pelo símbolo que ela representa do ponto de vista da coerência de um republicano que não hesitou em dizer que o rei vai nu e de cabelo espetado. Com sinal dos tempos, o partido Republicano terá progressivas dificuldades em se identificar com um mural de personagens com o carisma e a frontalidade política de McCain. Está por antecipar integralmente qual o efeito na democracia americana que será provocado pela degenerescência do partido Republicano, infestado quer por plutocratas como Trump ou representantes de confissões religiosas. Não somos capazes de definir os contornos dessa degenerescência, mas intuímos que vão ser desastrosos.

Mas nestas coisas a imprensa americana, apostada em bater o pé aos perigos que a informação livre e independente hoje enfrenta nos EUA de Trump, traz-nos sempre surpresas. A que me chamou a atenção vem do VOX (link aqui) que identifica uma raridade jornalístico-literária: em 2000, a revista Rolling Stone publicou um longo artigo sobre a campanha de McCain (link aqui), em que toda a autenticidade do candidato republicano é cuidadosamente analisada. Sabem quem é o autor desse longo artigo-reportagem? Nada mais, nada menos do que o mítico e inclassificável escritor americano, David Foster Wallace. A surpresa deste encontro jornalístico entre Foster Wallace e McCain talvez seja o melhor guia para a sua autenticidade.

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