(Tenho de reconhecer que, em dias como estes, é fácil
invocar o tema. Mas da indiferença dos asnos como Trump e do encolher de ombros
de muitos é preciso engrossar cada vez mais o número dos que compreendem que não
podemos fazer as coisas da mesma maneira. Quer isto significar que
qualquer que seja o projeto, a sua dimensão e a sua localização tem de integrar
o tema da mudança climática)
De regresso à base e com
um casamento pelo meio (que raio de tempo para um casamento), aproveito a
frescura do piso mais térreo para recuperar forças. E obviamente o tema da
mudança climática chega-se para uma curta reflexão. Os números que têm sido
publicados pelos organismos científicos e internacionais que estudam o problema
são irrefutáveis. O aumento médio da temperatura e as consequências que lhe
andam associadas produzem evidência avassaladora. E por mais incompetência e
desorganização que agrave o problema, uma grande parte do problema incêndios
está na questão climática.
A negação da evidência
está hoje concentrada nos que querem desesperadamente aproveitar as condições
lucrativas do curto prazo, na mais despudorada e deliberada ignorância da
defesa dos interesses das gerações futuras, escudando-se nas desculpas mais
parvas. Veja-se a alarvidade de Trump à solta, desmontando uma após outra as
bases de uma visão diferente para a economia americana. A descarbonização da
economia deixou de ser um tema para especialistas, está aí a desafiar a nossa
inteligência e criatividade. É um facto que a falta de transparência com que são
apresentados e fundamentados os apoios às renováveis tem contribuído decisivamente
para disseminar a desconfiança. Mas os que negam a evidência têm por
companheiros e aliados objetivos os que, não negando tais evidências, encolhem
ombros e projetam para o futuro dos outros essa preocupação.
O combate a estes dois
grupos apresenta nuances de estratégia. Mas é como um bloco que devem ser
combatidos. E o combate só tem uma alternativa. Alargar o número dos que já
compreenderam que a mudança climática não é já uma sofisticação das elites, tão
depauperadas pelo populismo galopante e pela facilidade com que se vendem por
um prato de lentilhas. Afinal, o universo daqueles que já compreendeu que se
trata de um condicionante a enfrentar em qualquer projeto hoje e não amanhã,
qualquer que seja a sua dimensão e onde quer que seja implantado.
Ou seja, a complexa
equação das escolhas públicas tem hoje mais um elemento na sua programação, a
margem de manobra de cada projeto e opção pública para contribuir para a
mitigação do tema. Tão simples na sua formulação, tão difícil na sua
implementação corrente.
Mas há sinais
reveladores. Há mais de 10 anos, quando mergulhei num estudo sobre os vinhos do
Porto e do Douro, introduzi ao de leve o tema das mudanças climáticas e alertei
para a necessidade de o abordar nas escolhas do setor. Hoje, vemos um player representativo como a Fladgate
Partnership, liderado por Adrian Bridge, a envolver-se decisivamente nesta matéria,
refletindo o que o setor pensa. Outros protagonistas e setores irão acompanhar
esta tendência e mais tarde ou mais cedo (mais cedo do que tarde atendendo à
ameaça) vão ser mais do que os asnos do curto prazo, sem qualquer visão de futuro.
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