sábado, 4 de agosto de 2018

A MUDANÇA CLIMÁTICA



(Tenho de reconhecer que, em dias como estes, é fácil invocar o tema. Mas da indiferença dos asnos como Trump e do encolher de ombros de muitos é preciso engrossar cada vez mais o número dos que compreendem que não podemos fazer as coisas da mesma maneira. Quer isto significar que qualquer que seja o projeto, a sua dimensão e a sua localização tem de integrar o tema da mudança climática)

De regresso à base e com um casamento pelo meio (que raio de tempo para um casamento), aproveito a frescura do piso mais térreo para recuperar forças. E obviamente o tema da mudança climática chega-se para uma curta reflexão. Os números que têm sido publicados pelos organismos científicos e internacionais que estudam o problema são irrefutáveis. O aumento médio da temperatura e as consequências que lhe andam associadas produzem evidência avassaladora. E por mais incompetência e desorganização que agrave o problema, uma grande parte do problema incêndios está na questão climática.

A negação da evidência está hoje concentrada nos que querem desesperadamente aproveitar as condições lucrativas do curto prazo, na mais despudorada e deliberada ignorância da defesa dos interesses das gerações futuras, escudando-se nas desculpas mais parvas. Veja-se a alarvidade de Trump à solta, desmontando uma após outra as bases de uma visão diferente para a economia americana. A descarbonização da economia deixou de ser um tema para especialistas, está aí a desafiar a nossa inteligência e criatividade. É um facto que a falta de transparência com que são apresentados e fundamentados os apoios às renováveis tem contribuído decisivamente para disseminar a desconfiança. Mas os que negam a evidência têm por companheiros e aliados objetivos os que, não negando tais evidências, encolhem ombros e projetam para o futuro dos outros essa preocupação.

O combate a estes dois grupos apresenta nuances de estratégia. Mas é como um bloco que devem ser combatidos. E o combate só tem uma alternativa. Alargar o número dos que já compreenderam que a mudança climática não é já uma sofisticação das elites, tão depauperadas pelo populismo galopante e pela facilidade com que se vendem por um prato de lentilhas. Afinal, o universo daqueles que já compreendeu que se trata de um condicionante a enfrentar em qualquer projeto hoje e não amanhã, qualquer que seja a sua dimensão e onde quer que seja implantado.

Ou seja, a complexa equação das escolhas públicas tem hoje mais um elemento na sua programação, a margem de manobra de cada projeto e opção pública para contribuir para a mitigação do tema. Tão simples na sua formulação, tão difícil na sua implementação corrente.

Mas há sinais reveladores. Há mais de 10 anos, quando mergulhei num estudo sobre os vinhos do Porto e do Douro, introduzi ao de leve o tema das mudanças climáticas e alertei para a necessidade de o abordar nas escolhas do setor. Hoje, vemos um player representativo como a Fladgate Partnership, liderado por Adrian Bridge, a envolver-se decisivamente nesta matéria, refletindo o que o setor pensa. Outros protagonistas e setores irão acompanhar esta tendência e mais tarde ou mais cedo (mais cedo do que tarde atendendo à ameaça) vão ser mais do que os asnos do curto prazo, sem qualquer visão de futuro.

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