sábado, 18 de agosto de 2018

PALHAÇADA VESTIDA DE VERDE



(A silly season tem-se alimentado sobretudo de algumas arrogâncias ou ilusões governamentais, sobretudo em relação às evidências de degradação do serviço público com os comboios à cabeça. Mas eis que senão quando a palhaçada vestida de verde irrompe na estação, combinada com alguma justiça que se presta a este espetáculo.)

O futebol português no plano comparativo internacional anda perdido e descobre todos os estratagemas possíveis e imaginários para ocultar as suas debilidades e incompetências, que são muitas e variadas, acolitando gente que à sombra da chamada gestão desportiva se projeta acima das suas capacidades.

Ainda na quinta-feira, o Sporting de Braga, aquele clube de que se fala para se juntar de vez ao trio da frente, deu uma imagem paupérrima do futebol nacional, deixando-se eliminar por uns curiosos da Ucrânia. Imagino a ira de António Salvador face à inépcia da sua equipa. O Benfica não tem a entrada garantida na fase de grupos da Liga dos Campeões, tudo dependendo de como vai gerir o inferno de Salónica. O FCP é, neste momento, o projeto mais estável, mesmo que sejam reconhecidas as suas debilidades financeiras de momento. Para já, é da prestação do FCP na fase de grupos da Liga que se esperam alguns pontos para alimentar o bolo nacional. Esperemos que Benfica e Sporting ganhem alguma embalagem e contribuam para o bolo.

Entretanto as queixinhas para os conselhos de justiça desportiva, e aqui me penitencio pela estratégia suicida em que o SLB se deixou mergulhar, sucedem-se. Mas a melhor ilustração da silly season é dada pela palhaçada sportinguista em torno do drama de saber se Bruno de Carvalho é ou não inimputável.

Em toda esta garraiada sportinguista, o que me choca não é a emergência de personagens do tipo BC. O caldinho em torno do futebol fora das quatro linhas que se foi acumulando ao longo de todos estes anos tornou possível a emergência da personagem. Apareceu no Sporting como poderia ter aparecido noutro clube qualquer e não foi sem apoio popular que tal aconteceu. O que me choca verdadeiramente é o discurso de alguns elementos da comunidade sportinguista que continua a considerar-se a nata de todas as elites, como se BC fosse um epifenómeno na margem. Pois ao contrário desses bem pensantes, fenómenos como BC fazem parte do futebol como ele está hoje e no estado a que o deixaram chegar. Eu entendo que na comunidade sportinguista haverá personalidades sempre que continuarão a proclamar que o sistema de valores do velho Sporting está intacto. Pura ilusão. As realidades dos clubes são hoje claramente heterogéneas. Nelas existe uma tensão permanente entre o populismo mais saloio tipo BC e valores assentes numa cultura desportiva onde não vale tudo para garantir uns minutos de fama. Por isso que me perdoem alguns amigos sportinguistas que podem justamente interrogar-se por que carga lhes saiu a fava. Mas se todos não travarem a fundo, o tempo será fértil para outros BC, inimputáveis ou não.

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