terça-feira, 7 de agosto de 2018

EXCEDENTES E DÉFICES EXTERNOS



(Alguma informação sobre os equilíbrios/desequilíbrios externos reportados a 2017, uma curiosidade para situar o ambiente de guerra comercial que alguns asnos têm vindo a criar. Com a evidência reconhecida pelo FMI que as economias avançadas marcam o contexto e com a variável procura interna a condicionar os resultados)

O sempre perspicaz Timothy Taylor (link aqui), no Conversable Economist, leva-me ao relatório do FMI “External Sector Report – Tackling Global Imbalances Amid Rising Trade Tensions” (link aqui), com informação que transcende em muito o alcance do post de hoje. O relatório sintetiza algumas evidências curiosas que tendemos a ignorar (porque variam com o tempo) sobre o estado da arte em matéria de equilíbrios e desequilíbrios externos. O indicador escolhido é o saldo da balança corrente, que engloba não apenas as exportações e importações de bens e serviços mas também a balança de rendimentos líquidos sobre o exterior.

A tabela que abre o post compara, respetivamente, os 15 países com excedentes externos mais elevados e os 15 com maiores défices externos, ambos definidos em termos absolutos e em termos de peso no PIB mundial e no PIB de cada país. Os dois grupos de 15 países dão que pensar.

A Alemanha domina claramente entre os excedentários dada a dimensão absoluta do seu excedente externo. Todavia, são economias pequenas mas excedentárias como a Holanda, a Suiça, Singapura, Taiwan ou a Dinamarca que apresentam excedentes mais relevantes em termos do peso no seu PIB. Já no que respeita aos países com défices mais elevados, a presença de economias avançadas é notória. O défice externo dos EUA é, em termos absolutos, colossal, embora em relação ao seu PIB interno esteja longe de ser dos mais representativos. Mas a presença dos EUA, Reino Unido, Canadá e Índia nas quatro posições deficitárias mais importantes é um facto marcante. No grupo dos deficitários, avultam também os países que o são dada a debilidade da sua estrutura produtiva, como, por exemplo, a Argélia, o Egipto e Oman. Economias emergentes como a Turquia, a Indonésia, o México e a Indonésia completam o quadro dos mais deficitários no plano externo. Não deixa de ser também curioso o facto da Itália e da França surgirem em campos opostos, a primeira excedentária e a segunda deficitária. Não houve alguém que falou da crise de competitividade italiana? Algo estranha face aos números.

Para uma leitura vesga como a de Trump sobre o problema, a posição oposta da China e dos EUA salta à vista, bem como a que resultaria se tivéssemos o valor do excedente externo para a União Europeia que é muito próximo em valor absoluto do défice americano.

Tim Taylor é muito perspicaz quando salienta do relatório do FMI o seguinte:

“De passagem, é importante notar que os economistas do FMI explicam estas alterações nos excedentes e défices externos correntes sem se referirem ao facto do comércio externo ser mais ou menos justo, o que faz sentido, porque não se registaram alterações relevantes nas regras comerciais ao longo do tempo. Pelo contrário, focam-se na procura nos diferentes países em simultâneo com as escolhas em matéria de política monetária e fiscal”.

Base para uma boa conversa.

(Correções ortográficas em 08.08.2018)

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