(Para uma certa esquerda em que me incluo a Suécia e o modelo
escandinavo sempre representaram a possibilidade de combinar inovação e maior
igualdade, desenvolvimento e descentralização, tolerância, modernidade, vanguarda
de causas sociais. Talvez
essa fixação nos tenha impedido de ver a realidade mutável do modelo escandinavo,
requerendo uma mais profunda análise crítica dos nossos referenciais.)
Nos meus
trabalhos com a colega Pilar González para a Organização Internacional do Trabalho
(ILO) tive a felicidade de privar no âmbito dos estudos que realizámos com as
experiências de outros países, entre os quais a Suécia. As análises do colega Dominique
Anxo alertaram-nos para a resiliência manifestada pelo modelo sueco, mas
simultaneamente ajudaram-nos a perceber que o seu modelo também sofreu a erosão
das causas sociais, aliás determinada pelo afastamento do poder dos sociais-democratas.
À boleia do
Financial Times (link aqui) cruzei-me com um conjunto de gráficos que nos dão conta de
mudanças na situação global sueca, sem as quais tenderemos a formar uma perceção
presa no tempo das nossas aspirações sobre a sociedade sueca e o seu modelo.
O primeiro
gráfico que abre este post traz-nos
algo de surpreendente. A desigualdade tem evoluído a um ritmo apreciável na Suécia.
Embora o país apresente ainda valores bastante inferiores aos valores padrão na
OCDE, a verdade é que a sociedade sueca não escapou à erosão da desigualdade
que atravessou nos tempos mais recentes as economias mais maduras. O que aconteceu
ao distributivismo sueco das nossas aspirações e referenciais?
A um outro nível,
a abertura sueca tolerante traduziu-se na relevante evolução da população
imigrada, medida aqui pelo número de autorizações de residência registados no
país e pelo número de pedidos de asilo, que tem em 2015 uma queda a pique (gráficos
abaixo).
O gráfico
seguinte dá-nos conta das dificuldades de integração da população imigrada, o que
também não deixa de representar algo de dissonante face aos nossos referenciais.
Para além do desemprego de imigrantes ter aumentado, o gráfico abaixo mostra
que é sobretudo a variável educação da população imigrada que está na origem
das dificuldades de integração.
Além disto,
o modelo educativo sueco não faz milagres. O desvio entre os resultados nos
testes de PISA obtidos por população nascida na Suécia e nascida no exterior é
progressivamente penalizador para esta última.
Os suecos
estão próximos de eleições e será provavelmente um primeiro-Ministro de
centro-direita a governar o país. A pergunta óbvia é a de saber se o modelo sueco
continuará resiliente nos seus valores fundamentais ou se, pelo contrário,
experimentará também o recuo civilizacional que anda por aí a pairar.
Muito interessante. Obrigado. Vou partilhar.
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