(Flavita Banana, http://elpais.com)
No feriado de 15 estive em Lisboa, onde partilhei um agradável jantar-convívio com amigos interessantes, e regressei na manhã de ontem ao Porto de comboio (o qual chegou atrasado, como convém). Mas o meu ponto é outro: o táxi que me calhou em sorte no trajeto de casa para Santa Apolónia era conduzido por um jovem de nacionalidade brasileira, muito otimista e afirmativo, que me referiu ter emigrado para Portugal há quatro anos (onde já estavam três irmãs e se juntou com uma cabo-verdiana porque “as portuguesas só querem brincar e não relações continuadas”). A conversa de circunstância que tivemos fez-me pensar em quanto estarei desfasado (eu e muitos que se posicionam política e socialmente de acordo com entendimentos semelhantes aos meus) no tocante às opções tendenciais que verdadeiramente marcam o mainstream do chamado “povão”. Em três ou quatro penadas, o homem disse tudo o que lhe aprouve dizer: que milhões de brasileiros regressariam ao Brasil quando sentissem perspetivas de uma mudança séria, que no momento atual essa mudança só poderia ser encarnada por Jair Bolsonaro (o ex-militar na reserva que surge como um cometa salvador da Pátria com o seu “Projeto Fénix”, que abre com “um tripé de valores iluministas” – constitucionalidade, eficiência e fraternidade – mas é “raso e grosseiro, como o candidato”), que este teria alguma proximidade e simpatia em relação às escolhas e práticas de Trump, que os Estados Unidos estão hoje incomensuravelmente melhor do que antes da chegada deste, que os governos não podem continuar a privilegiar gastos públicos em cultura e eventos com artistas nem muito menos a patrocinar paradas gay e provocações similares. E muito assim deixou dito, todo um programa mesmo. A dúvida que ficou desde então a moer a minha cabeça – aterradora, mas sinceramente – foi a de conseguir avaliar até que ponto este não começa a ser o subliminar pensamento (?) que se está lentamente a apoderar das entranhas da nossa sociedade livre e aberta.
(Caín, http://www.larazon.es)
(Caín, http://www.larazon.es)
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