segunda-feira, 20 de agosto de 2018

SAMIR AMIN

(Monthly Review)

(Tal como o meu colega de blogue também eu me associo à morte do economista do Terceiro Mundo como chamávamos então ao capitalismo com outras formas que ou estagnava ou tomava novas formas a que haveríamos chamar depois economias emergentes. Não é pelo facto de me ter afastado da sua obra em termos de política de desenvolvimento que deixarei de reconhecer como foi determinante na minha formação a sua conceção da emergência da economia mundial)

A minha relação com a obra de Samir Amin representa um tempo da minha vida pessoal, mas também da minha formação e da minha perceção sobre a economia global.

Com os escritos de Amin religiosamente anotados nas versões em francês (haveria depois de me tornar um leitor e estudioso anglo-saxónico) construi meticulosamente uma perspetiva sobre as manifestações do capitalismo nos países subdesenvolvidos. As variáveis poder, dominação, dependência desempenharam nessa compreensão um papel fundamental. Os modos de produção não capitalistas que caracterizam a generalidade dessas sociedades foram submetidos a uma introsão do exterior fundamental para compreender as fórmulas transformadas que o capitalismo revestiu nessas sociedades. À obra de Amin devo também a descoberta de uma perspetiva sobre a economia mundial, com leis de reprodução do desenvolvimento desigual que prolongaram historicamente no tempo a introsão original.

Com a maturação das minhas próprias ideias sobre o assunto, comecei a compreender que a compreensão do sistema capitalista mundial e do modelo de reprodução do desenvolvimento desigual não dispensava a necessidade de conhecer os mecanismos internos dessas sociedades que tornavam possível a reprodução interna desse desenvolvimento desigual. Perante essa encruzilhada de ideias, aprofundei o meu conhecimento da obra dos chamados pioneiros da economia do desenvolvimento, como Hirschman patrono deste blogue, e comecei a interessar-me pela transformação dessas sociedades, não esquecendo os padrões de dominação impostos pelo modelo global do desenvolvimento desigual, mas dando mais atenção às originalidades desse desenvolvimento desigual, quando visto a partir da periferia. Nunca me seduziram os conceitos mecânicos de centro e periferia e muito menos a tentativa, que creio que foi gorada, de investigadores como Boaventura Sousa Santos que ensaiaram o fechamento do modelo com o conceito de semiperiferia.

Hoje com a distância do tempo, tenho de concluir que a leitura prévia da obra de Amin me proporcionou um conhecimento das estruturas pré-capitalistas desses países que se revelou riquíssimo para entender os pioneiros e os seus contributos. As encruzilhadas da vida haveriam de inibir o conhecimento in loco dessas sociedades, o que sempre ficará como uma grande limitação da minha parte. Afinal, o que Amin me trouxe foi a introdução da história da economia mundial na construção de uma explicação global e dinâmica do subdesenvolvimento. Não dou por perdido esse tempo, tal como não renego a vertigem desse tempo, o da militância académica.

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