(Monthly Review)
(Tal como o meu colega de blogue
também eu me associo à morte do economista do Terceiro Mundo como chamávamos então
ao capitalismo com outras formas que ou estagnava ou tomava novas formas a que haveríamos
chamar depois economias emergentes. Não é pelo facto de me ter
afastado da sua obra em termos de política de desenvolvimento que deixarei de
reconhecer como foi determinante na minha formação a sua conceção da emergência
da economia mundial)
A minha relação com a obra
de Samir Amin representa um tempo da minha vida pessoal, mas também da minha formação
e da minha perceção sobre a economia global.
Com os escritos de Amin religiosamente
anotados nas versões em francês (haveria depois de me tornar um leitor e estudioso
anglo-saxónico) construi meticulosamente uma perspetiva sobre as manifestações
do capitalismo nos países subdesenvolvidos. As variáveis poder, dominação,
dependência desempenharam nessa compreensão um papel fundamental. Os modos de
produção não capitalistas que caracterizam a generalidade dessas sociedades
foram submetidos a uma introsão do exterior fundamental para compreender as fórmulas
transformadas que o capitalismo revestiu nessas sociedades. À obra de Amin devo
também a descoberta de uma perspetiva sobre a economia mundial, com leis de reprodução
do desenvolvimento desigual que prolongaram historicamente no tempo a introsão
original.
Com a maturação das minhas
próprias ideias sobre o assunto, comecei a compreender que a compreensão do
sistema capitalista mundial e do modelo de reprodução do desenvolvimento
desigual não dispensava a necessidade de conhecer os mecanismos internos dessas
sociedades que tornavam possível a reprodução interna desse desenvolvimento desigual.
Perante essa encruzilhada de ideias, aprofundei o meu conhecimento da obra dos
chamados pioneiros da economia do desenvolvimento, como Hirschman patrono deste
blogue, e comecei a interessar-me pela transformação dessas sociedades, não esquecendo
os padrões de dominação impostos pelo modelo global do desenvolvimento desigual,
mas dando mais atenção às originalidades desse desenvolvimento desigual, quando
visto a partir da periferia. Nunca me seduziram os conceitos mecânicos de centro
e periferia e muito menos a tentativa, que creio que foi gorada, de investigadores
como Boaventura Sousa Santos que ensaiaram o fechamento do modelo com o
conceito de semiperiferia.
Hoje com a distância do
tempo, tenho de concluir que a leitura prévia da obra de Amin me proporcionou um
conhecimento das estruturas pré-capitalistas desses países que se revelou riquíssimo
para entender os pioneiros e os seus contributos. As encruzilhadas da vida haveriam de inibir o conhecimento in loco dessas sociedades, o que sempre ficará como uma grande limitação da minha parte. Afinal, o que Amin me trouxe
foi a introdução da história da economia mundial na construção de uma explicação
global e dinâmica do subdesenvolvimento. Não dou por perdido esse tempo, tal
como não renego a vertigem desse tempo, o da militância académica.
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