quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A DEMOCRATIZAÇÃO DOS CORPOS



(Finalmente a canícula moderada e a praia de Moledo devolvida a toda a sua expressão, melhorada com a natureza que parece ter-se autocorrigido. Dias excelentes para compreender a valia do conceito de espaço público)

Pela informação que consegui obter não houve este ano qualquer intervenção pública na praia de Moledo. Tenho memória de que há dois anos foi realizada uma intervenção de grande expressão na zona da praia que coincide com a mata do Camarido, intervenção destinada a proteger dunas, com colocação de almofadas gigantescas de areia. Não sei se por reflexo remoto de tal intervenção se apenas por obra reparadora da natureza, que resolveu fazer as pazes com Moledo, o areal surge este ano bastante alargado, produzindo mesmo em praia-mar um areal bastante mais extenso.

Ontem e hoje, com a canícula moderada que se instalou por estas paragens, bastante mais amena do que as temperaturas que se anunciam para esse interior martirizado, a praia recuperou todo o seu esplendor, democrático direi eu. As praias são ainda hoje um dos raros espaços naturais em que o conceito de acesso público tem sentido percetível para as pessoas, das mais comuns às mais sofisticadas. O espaço da praia num dia como o do hoje é bem a ilustração das virtualidades do espaço público, gerando um ambiente que costumo designar de democratização dos corpos.

Tenho a tese de que a escassez destes dias constitui uma defesa natural das praias como Moledo, o combate da banalização. O contrafactual seria desastroso. A raridade destes dias tem o seu valor próprio.

E como nestes primeiros dias de agosto o índice de concentração das tias e tios de Cascais ainda está nos limites toleráveis tudo se conjuga para uma aprazível transição de regresso ao trabalho e às exigências do dia-a-dia laborioso.

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