(Decididamente António Costa não se dá bem com os
incêndios. Já não é a primeira nem a segunda vez. O primeiro-Ministro não
encontra o tom certo da comunicação e isso começa a revelar traços mais ocultos
da sua visão da política e da governação. Não havia necessidade pois
a oposição até estava a comportar-se surpreendentemente com sentido de
moderação e de Estado.)
Se integrarmos os
acontecimentos de junho e outubro de 2017 e agora o aparecimento do
primeiro-Ministro no briefing da Autoridade Nacional da Proteção Civil sobre o
incêndio da serra de Monchique, é fácil perceber que António Costa não se dá
bem com a comunicação sob fogo, ou seja em matéria de incêndios. Talvez sob o
efeito de uma injustificada má consciência pelo facto de um grande incêndio o
ter apanhado em férias, o seu aparecimento no briefing da ANPC acontece num contexto particularmente calmo em
matéria de pronunciamento político da oposição sobre o grande incêndio de
Monchique. Até aquele momento, o que tínhamos eram pronunciamentos
desencontrados e contraditórios de comentadores, técnicos, especialistas,
profissionais, voluntários e especialmente uma comunicação social que teve o
seu incêndio de eleição para desenvolver a sua estratégia da dúvida. Nada de
novo, pois o país está ainda longe de ter uma posição minimente estruturada e
homogénea de como abordar os fogos florestais. Pela sua parte, a oposição
estava recatada, não se atrevendo a entrar na liça enquanto os elementos de
explicação e resultado não se clarificassem. Por que raio de razão, então,
produzir uma comunicação do tipo da que foi produzida, usando a fórmula de que
Monchique (a má situação) foi a exceção da regra (a boa situação, ou seja a
ausência de incêndios relevantes)?
Entra pelos olhos dentro
dos mais sensatos que se justificava uma comunicação mais ponderada e também
mais reservada. Em primeiro lugar, ficar-lhe-ia bem ressalvar as vantagens de
um verão que demorou a sê-lo, por mais importante que fosse sublinhar o
relativo êxito dos alertas às populações para as tarefas de limpeza e até podia
citar os números conhecidos das ignições registadas. Segundo, a dimensão da
gravidade de Monchique e da perceção dos seus danos alimentada pela tal
encantada comunicação social exigiriam mais sensibilidade para a classificar
como simples exceção, por respeito pelas pessoas envolvidas e pela repercussão
internacional do acontecimento. Terceiro, porque não sabemos o que vem aí no
restante verão e todas as cautelas são necessárias porque os desvarios
climáticos não cansam de nos surpreender.
A relação entre os
políticos e os eleitores, sobretudo a perceção que estes últimos alimentam dos
primeiros, é cada vez menos determinada por auréolas, construções de imagem ou
marketing político. São as tomadas de posição e as declarações em momentos
críticos que, em meu entender, constroem essa perceção. Aconselha-se, por isso,
o primeiro-Ministro a pensar bem e muitas vezes no que vai dizer em teatro de
operações desta natureza.
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