Todos temos direito aos nossos pequenos “momentos ¡Hola!”. Sobretudo no mês de agosto, à beira da praia e sob a influência dos ares do mar. Embora os meus tenham os seus limites em termos de absurdo, pelo que me fico pelo “drama” da família imperial japonesa – sim, aquela que é hoje encabeçada pelo filho do celebérrimo Hirohito – perante os preocupantes problemas de sucessão que se lhe deparam em razão da exclusiva presença de um varão na descendência mais jovem. Uma questão que ameaça uma Casa Imperial cuja estrita submissão ao patriarcado já vem do século IV e que, ademais, ainda força os membros do sexo feminino a abdicarem dos seus direitos em caso de casamento – sendo que as mulheres são já 14 em 19 familiares... Dizem as más línguas que este enorme transtorno está por detrás da depressão crónica que atinge a princesa Masako (mulher do príncipe herdeiro), mas pior vai ser a pressão sobre o príncipe Hisahito e a sua futura escolhida para virem a conceber um varão que possa dar continuidade à linhagem. Isto sim, são problemas de verdade...
Ao jeito de contrabalanço compensatório, junto dois factos de sinal mais positivo. O primeiro é a inofensiva curiosidade deste mês que reporta o facto de o Japão ter recuperado da China o segundo lugar mundial no ranking dos mercados bolsistas globais. Nada que vá trazer grande felicidade adicional ao País do Sol Nascente, mas ainda assim...
Já o segundo, que se refere a algumas tendências demográficas em crescente presença na sociedade nipónica – ao que tudo indica aquela que claramente se encontra na vanguarda global em matéria de perceção dos desafios e oportunidades do envelhecimento em inúmeros domínios (saúde, finanças, habitação ou tecnologia) e do seu enfrentamento em termos de desenvolvimento dos inerentes produtos e políticas –, é bem mais sério. Com efeito, e como sublinhava um artigo recente do “Financial Times” estimulado pela ideia de uma real possibilidade de se encarar com naturalidade uma maior e melhor longevidade humana (até à centena de anos, sugeria um livro de 2016 que os japoneses traduziram por “Life Shift”): “indivíduos, instituições, governo, finanças e infraestrutura necessitam de se preparar urgentemente para um tempo em que milhões podem razoavelmente esperar viver por um século” e, ainda, “o Japão abraçou a ideia de uma vida de 100 anos (hyakunen jinsei) como uma diretiva política abrangente”. Alguns dados e números: 27% da população tem idade superior a 65 anos; 50% dos cidadãos nascidos em 2007 têm uma esperança de vida de 107 anos; 3,36 milhões de japoneses com idade superior a 69 anos ainda trabalham (havendo aproximadamente 40% deles a declararem que pretendem trabalhar enquanto puderem); existem hoje 67824 pessoas centenárias (contra 327 há cinquenta anos), o maior rácio per capita do mundo; a “Sociedade Gerontológica” reivindica a alteração da definição de “idoso” de “mais de 65” para “mais de 75”; e, como não há bela sem senão, regista-se também que o número de mortes excede o de nascimentos há mais de uma década (veja-se a evolução recente e previsível da pirâmide de idades japonesa no gráfico que encerra este post), enquanto os custos em saúde evoluem de forma visivelmente ascendente e com especial significância nos cuidados associados às faixas etárias mais idosas.
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