(O dia começou cedo recordando
pela voz de Paulo Alves Guerra na Antena 2 o aniversário da morte de Schubert
como só o jornalista e melómano do programa da manhã o sabe fazer. Umas horas
depois, já com os afazeres do trabalho a concentrarem a atenção, veio a notícia
da morte do José Mário Branco. Mas que dia para a música
que nos embala a vida.)
A
condução do programa da manhã na Antena 2 por Paulo Alves Guerra é por vezes caótica,
saltando de assunto para assunto, sempre com a música e as suas efemérides a
pautarem o tempo e o ritmo da memória. Mas não conheço melhor introdução à
cultura musical, na qual ela nunca se apresenta sozinha, mas sempre em diálogo
com outras formas de expressão artística, por esse país fora, mostrando-nos um
ambiente de descentralização e iniciativa culturais bem diferente do que está
cristalizado na cabeça de alguns governantes de hoje e do passado.
A efeméride
de mais um aniversário da morte de Schubert era afinal uma boa forma de começar
o dia, relembrando peças e excertos de um génio criativo que deveria ter vivido
muito mais tempo do que lhe foi concedido, dos trios para violino, violoncelo e
piano às sonatas, passando pelas sinfonias.
Não
sei se Schubert passou alguma vez pelas deambulações musicais de José Mário Branco
(JMB), talvez não, já que o ouvi mencionar quartetos de Debussy, Ravel, Shostakovich
e Prokofiev, mas nunca Schubert.
Levei
tempo a digerir a notícia e toda uma história do país se descobre percorrendo a
obra de JMB, dos tempos de Paris ao regresso no 25 de abril, passando pela
catarse do FMI, até tempos simultaneamente mais depurados e distanciados, mas
sempre com aquela coerência que impressionava qualquer um.
Já
hoje à noite na RTP 1 com a reapresentação de um longo programa-entrevista com JMB
(dezembro de 2018) pude rever a grandeza de uma postura e sobretudo a sua lúcida perceção das
mudanças do mundo e da cultura musical ao longo das décadas em que a sua criação
foi sendo desenvolvida.
Seguramente
que se mudam os tempos e também as vontades, mas a essência de JMB permanecerá
com a sua música, tal como hoje nos comovemos, sempre, com o génio de Schubert.
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