terça-feira, 19 de novembro de 2019

19 de Novembro



(O dia começou cedo recordando pela voz de Paulo Alves Guerra na Antena 2 o aniversário da morte de Schubert como só o jornalista e melómano do programa da manhã o sabe fazer. Umas horas depois, já com os afazeres do trabalho a concentrarem a atenção, veio a notícia da morte do José Mário Branco. Mas que dia para a música que nos embala a vida.)

A condução do programa da manhã na Antena 2 por Paulo Alves Guerra é por vezes caótica, saltando de assunto para assunto, sempre com a música e as suas efemérides a pautarem o tempo e o ritmo da memória. Mas não conheço melhor introdução à cultura musical, na qual ela nunca se apresenta sozinha, mas sempre em diálogo com outras formas de expressão artística, por esse país fora, mostrando-nos um ambiente de descentralização e iniciativa culturais bem diferente do que está cristalizado na cabeça de alguns governantes de hoje e do passado.

A efeméride de mais um aniversário da morte de Schubert era afinal uma boa forma de começar o dia, relembrando peças e excertos de um génio criativo que deveria ter vivido muito mais tempo do que lhe foi concedido, dos trios para violino, violoncelo e piano às sonatas, passando pelas sinfonias.

Não sei se Schubert passou alguma vez pelas deambulações musicais de José Mário Branco (JMB), talvez não, já que o ouvi mencionar quartetos de Debussy, Ravel, Shostakovich e Prokofiev, mas nunca Schubert.

Levei tempo a digerir a notícia e toda uma história do país se descobre percorrendo a obra de JMB, dos tempos de Paris ao regresso no 25 de abril, passando pela catarse do FMI, até tempos simultaneamente mais depurados e distanciados, mas sempre com aquela coerência que impressionava qualquer um.

Já hoje à noite na RTP 1 com a reapresentação de um longo programa-entrevista com JMB (dezembro de 2018) pude rever a grandeza de uma postura e sobretudo a sua lúcida perceção das mudanças do mundo e da cultura musical ao longo das décadas em que a sua criação foi sendo desenvolvida.

Seguramente que se mudam os tempos e também as vontades, mas a essência de JMB permanecerá com a sua música, tal como hoje nos comovemos, sempre, com o génio de Schubert.

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