domingo, 17 de novembro de 2019

ENGLOBAMENTO


Por vezes, temos a sensação de que tudo é relativo e aproximável neste mundo geringonçado em que vivemos, sobretudo no que toca a estas nossas paragens. E sim, claro que sim, a solução que esteve na base da chamada “geringonça” foi boa e fez bem ao País. Mas tal não implica uma fusão de pensamentos, guiada por uma lógica de fim das ideologias, nem que o sistema (capitalista, entenda-se) seja capaz de acomodar tudo e o seu contrário. Eu próprio, em discussão com amigos, defendo às vezes a necessidade de refletirmos sobre o que separa a aposta num sistema alternativo (antes dito socialista) da aposta numa melhoria e reforma por dentro do sistema existente (dito irrecuperável por algumas forças ideologicamente driven). A questão do englobamento no IRS de alguns rendimentos de capital é um bom exemplo do que está em causa, já que, por um lado, se trata de uma medida cidadãmente igualitária que parece justa quando descrita discursivamente à esquerda e, por outro lado, poderá constituir uma “machadada” nos equilíbrios que ainda buscamos para o nosso débil quadro económico-financeiro e social – como Manuela Ferreira Leite sustenta na sua coluna do “Expresso”, o englobamento irá abanar fortemente a necessária recuperação, que de há muito vem sendo ensaiada entre avanços e recuos, de um regime de arrendamento equilibrado que não se compadece com a introdução de permanentes fatores de instabilidade e devia ser encarado como um elemento essencial de confiança para os pequenos e médios proprietários que por aí pululam. Além de outros pontos que também deveriam ser tidos em conta, como p.e. os da baixa poupança nacional, do rejuvenescimento das cidades ou do envelhecimento do património edificado...

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