sexta-feira, 22 de novembro de 2019

PARA O FIM-DE-SEMANA



(A chuva que alaga espaços mas que não cai onde devia, Alexandra Lucas Coelho e Charles Lloyd pode ser uma boa combinação. Sem mais. Talvez uma boa gastronomia como complemento.)

Já aqui confessei que sou mau viajante, cada vez pior viajante. Nessa onda, o Brasil que não conheço nunca me despertou aquele tipo de impulsos só eles capazes de descongelar a inércia do mau viajante. Nunca foi grande preocupação explicar tal atavismo, oportunidades houve no passado, com família relativamente próxima e espaço de cooperação universitária, mas a verdade é que o impulso não surgiu e a inércia venceu.

Por isso, a penúltima obra de Alexandra Lucas Coelho (ALC), Deus Dará, foi um valente murro no estômago, com uma perspetiva do Brasil que, noutro tempo, teria abalado a inércia de que falei. Mas, simultaneamente, quando recuperava do impacto, também percebi que aquele livro só fora possível com um tipo de integração e vivência que não está ao alcance de um moderado turista acidental.

ALC volta ao tema, parecendo encerrar um ciclo (mais propriamente uma trilogia) com Cinco Voltas na Bahia e um Beijo para Caetano Veloso apresentando a marca de um reparo de Caetano Veloso que abre o livro “Falta a Bahia no seu livro”. Imagino, por isso, que o impacto esteja ao nível do Deus Dará.

Por outro lado, enquanto que o projeto que Charles Lloyd trouxe este novembro ao Festival de Jazz de Guimarães, Kindred Spirits, pelo que pude saber não está ainda gravado e não sei mesmo se virá a estar, fico com o Vanished Gardens, com The Marvels e a voz espantosa de Lucinda Williams, em regresso à Blue Note depois de uma vastidão de discos preciosos na ECM.

O tempo está mais para ler e ouvir do que para escrever.

Nota final

A crónica de hoje de ALC na Antena 2 de manhã sobre a atmosfera criada na Voz do Operário antes da saída da urna de José Mário Branco é arrepiante e comovente.

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