(Mainly Macro, link aqui)
(De partida para Lisboa
para apresentar um penoso (não pelo tema, mas pelas dificuldades de informação
encontradas) trabalho de dois anos, a avaliação da implementação das
estratégias nacional e regionais de especialização inteligente, pouco tempo
para grandes desenvolvimentos de pensamento enquanto não me liberto de tal peso. Tempo por isso apenas para um breve comentário sobre o programa eleitoral
de Corbyn .)
Jeremy
Corbyn não é propriamente a figura mais empática deste mundo. Apesar disso e
não obstante algum entusiasmo que suscitou quando se perfilou como novo líder
dos trabalhistas em contraponto ao estado lastimoso a que as experiências de
Blair e seus seguidores conduziram o Labour, Corbyn pertence a um tempo da
política que só os mais entrincheirados sindicalistas hoje reconhecem existir.
A sua posição titubeante sobre o BREXIT (estou convencido que ele prefere a
saída a permanecer na União) e, nos tempos mais recentes, o modo infantil como
se deixou envolver no antisemitismo do Labour nunca totalmente desmentido
colocam-no longe da esperança que alguma esquerda europeia já viu na esquerda
britânica.
Por
isso, é bem natural que a sua falta de empatia com um eleitorado de mudança se
confunda com interpretações viciadas e até falsas do programa que propõe para
governar o Reino Unido, acaso a corrente para expulsar Boris Johnson do palco
político fosse mais forte, que efetivamente não é.
Um
exemplo dessa ausência de rigor nessa interpretação é a ardilosa comparação que
a imprensa britânica (neste caso a Sky News) do programa de despesa pública
proposto pelos Conservadores de Johnson com o que é proposto pelos Trabalhistas
de Corbyn. Essa comparação situa-se no rácio de 1 para 28 Libras, ou seja, para
cada libra de despesa pública requerido pelo programa de Johnson correspondem
28 libras de despesa proposta por Corbyn.
No Mainly Macro, Simon Wren-Lewis procura
desmontar essa interpretação, não com a preocupação de escamotear que o
programa de Corbyn é mais “despesista”, mas para situar tal confronto em termos
bem mais rigorosos e por isso conduzindo a rácios bem mais baixos.
A
figura que abre este post é bem ilustrativa do tipo de argumentação que
Wren-Lewis nos propõe. O peso do Estado no Reino Unido foi nos tempos de
Cameron-Osborne colocado em níveis inaceitavelmente baixos para as
responsabilidades públicas do Governo britânico que tem raciocinado, por exemplo,
como se não existisse um sistema público de saúde para ser respeitado e
financiado (lá no fundo os conservadores desejariam um sistema similar ao
americano sem Medicare). Ou como se a política pública de habitação não
existisse. Ou como se as infraestruturas públicas não necessitassem de
manutenção ou de reforço em função dos riscos que devem cobrir (vejam as calamitosas
repercussões de cheias no Reino Unido em parte resultantes do desleixo a que o
investimento público foi votado). Tudo isto por força de políticas de austeridade
meramente ideológicas e de classe e nem por sombras por problemas de
financiamento que o Reino Unido nunca enfrentou (estou convencido que o novo
filme de Ken Loach, que ainda não vi, representará uma parte dessa tragédia).
O que
Wren-Lewis nos diz é que o programa de Corbyn pode ter seguramente
incongruências, mas se o Reino Unido estivesse em termos de peso do Estado próximo
da OCDE, já não se justificaria o espanto do rácio 1 libra para 28 libras. Como
é que isso se financia é outra conversa e o velho Corbyn obviamente deposita
essa função na punção fiscal das empresas e dos mais ricos, não ignorando o
poderoso aumento de procura global que poderá assegurar recitas adicionais.
Toda
esta matéria é passível de debate eleitoral e não é certo que as ideias de Corbyn
captem a atenção do eleitorado garantindo-lhe a vitória. Mas para um debate
sério não podemos ignorar o contexto em que a desproporção das propostas de despesa
pública necessita de ser interpretado. Se a renovação da esquerda está para
além do tempo de Corbyn isso é outra conversa para outros posts, embora disso
esteja convencido.
Sem comentários:
Enviar um comentário