terça-feira, 26 de novembro de 2019

NA PELE DE AVALIADOR



(Após um parto de longa gestação, 24 meses e picos, que deu até para nos entrementes “mudar de olhos”, salvo seja, para ver melhor a coisa, apresentei hoje no Jardim de Inverno do Teatro S. Luís os resultados da avaliação da implementação das estratégias nacional e regionais de especialização inteligente no atual período de programação. O ambiente estava propicio, a casa estava cheia e assim termina mais um exercício de avaliação de políticas públicas.)

Várias interpretações são possíveis para um Jardim de Inverno tão à cunha para ouvir resultados de duas avaliações, a da implementação da abordagem RIS 3 na programação PT 2020 e a da abordagem territorial das políticas de coesão na mesma programação, a cargo da CEDRU e apresentada com a proficiência habitual pelo amigo de longa data e destas guerras Sérgio Barroso. Ou há muita gente que não tem que fazer por esta Lisboa, interpretação algo venenosa, que posso ignorar. Ou a entrada de funções de novo governo, com presença assegurada na sessão de dois ministros, do Planeamento Nélson de Souza e da Coesão Territorial Ana Abrunhosa e, por conseguinte, a curiosidade de ir percebendo os novos meandros de orientação da futura programação 2021-2027, interpretação que colhe parcialmente. Ou a caterva de serviços envolvidos na programação é tão grande que basta a necessidade de assegurar um representante por instituição para encher a sala mais generosa, que também colhe parcialmente. Ou o país está diferente e há uma curiosidade genuína para olhar para a avaliação com um outro sentido de utilidade e interpelação, que gostaria sinceramente que colhesse, mas não estou seguro que aconteça.

Não vos vou falar da retribuição pessoal de registar que há dois ministros que elogiam creio que sinceramente o nosso trabalho. Sabe bem, mas é do foro muito pessoal e não é para aqui chamado.

Posso falar-vos da reação positiva da representante da Direção Geral da Comissão Europeia da Política Regional e Urbana para Portugal e Espanha com o tom crítico, mas contributivo, e independente das duas avaliações, que dá para registar que por estas terras também há gente que trabalha seriamente nestas questões da avaliação.

Mas hoje gostaria de falar do tom afirmativo e ambicioso com que a ministra da Coesão Territorial olha a nova programação, não sei ainda se correspondendo a um caderno de encargos claro do ponto de vista político, ou se para marcar terreno, clarificar ao que vem e definir o tom das expectativas. Quando sabemos que a nova ministra da Coesão Territorial vem de presidir a uma CCDR, a do Centro e de dirigir a Autoridade de Gestão de um Programa Operacional Regional, tudo o que ela afirmou de negativo observado na preparação do atual período de programação e que vincou bem não ter sido decisão das Autoridades de Gestão dos PO ou das CCDR, tem obviamente outro significado, a que vale a pena estar atento. Bem sei que a preparação do atual período de programação coube ao governo de Passos Coelho e mais propriamente ao ministro Poiares Maduro que caiu de paraquedas já avariado nestas questões. Por isso, é mais fácil rejeitar e criticar o que foi feito e sobretudo o significativo gap que existiu entre a negociação do Acordo de Parceria PT 2020 e a operacionalização da programação. Muita gente rejeitou hoje, incluindo a ministra, o modelo “one size fits all”. Ficamos a saber que, segundo a lógica do seu discurso, serão as CCDR a coordenar a governação multinível, que as Comunidades Intermunicipais terão o seu papel de coordenação intermunicipal de investimentos inserido na lógica da coordenação regional e que os grupos de ação local deverão regressar ao seu espírito inicial de animadores do desenvolvimento local. Música agradável para os ouvidos das minhas preocupações, mas já vi muita expectativa musculada acabar em sorrisinho amarelo de gente anémica e enfraquecida. Esperemos que o tempo não me desiluda por uma vez que seja.

E para terminar digo-vos que é agradável ouvir a Ministra invocar a nossa avaliação e reconhecer o alcance do modo como invoquei nessa avaliação o conceito de rendimentos crescentes para avisar das cautelas quanto às virtualidades das estratégias regionais de especialização inteligente. Tal como a inovação só pode ser realisticamente compreendida num universo de rendimentos crescentes, também as RIS 3 tenderão a determinar que sejam os territórios tecnologicamente mais dinâmicos a tirar melhor partido do foco e seletividade que a abordagem RIS 3 veio trazer às, já em maturação, políticas de inovação. O que significa que deve haver uma preocupação explícita de compensar ou menos amenizar as insuficiências dos territórios menos dinâmicos. Ouvi bem, com o ouvido esquerdo diga-se, para clarificar confusões, o que a Ministra afirmou.

Sem comentários:

Enviar um comentário