sábado, 2 de novembro de 2019

DO PROTECIONISMO


Vou hoje aqui cometer um misto de inconfidência e profanação. Porque, confesso-o humildemente e apesar de Adam Smith, nunca fui um adepto incondicional do livre-cambismo e sempre olhei com alguma simpatia para alguma argumentação em favor da proteção à indústria nascente (de Stuart Mill a Friedrich List) ou de algum protecionismo defensivo ou estratégico (de consciência desenvolvimentista da Escola da CEPAL e conexos a autores americanos menos ortodoxos). Na base deste meu posicionamento havia a ideia que fui adquirindo das minhas incursões pela Economia do Desenvolvimento de que do comércio livre não resultam sem mais ganhos generalizados para as partes intervenientes nem sequer uma repartição equilibrada dos ganhos eventualmente resultantes dessa proclamada desejável liberdade das trocas (troca desigual).

Dito isto, é claro que existem crescentes manifestações perversas da prática de lógicas protecionistas, como é o caso daquelas que atingem a atual economia mundial por via da política comercial agressiva levada a cabo por certos países (com os EUA de Trump à cabeça, sendo de chamar a atenção para o gráfico abaixo em que se evidenciam alguns dos principais momentos do passado que antecedeu o atual presidente), manifestações essas que decorrem frequentemente de situações de afirmação e conflitualidade política assentes em nacionalismos perversos e deslocados no tempo – é precisamente disso que trata o gráfico que abre este post, ao evidenciar quanto aumentaram pelo mundo tais práticas governamentais em anos recentes, e especialmente nos dois últimos anos (900 e 877 medidas registadas globalmente em 2018 e 2019, respetivamente). Um dado que prenuncia uma perigosa e desregulada deriva (já que a OMC está paralelamente submergida numa significativa paralisia de intervenção e influência, às mãos dos ditos nacionalismos) e, assim, um futuro pouco promissor para os caminhos de um comércio internacional que possa ser uma componente a relevar numa ordem mundial que há de brotar das cinzas destes terríveis anos de (des)globalização.

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