terça-feira, 12 de novembro de 2019

PARA TENTAR COMPREENDER O LABIRINTO AQUI AO LADO



(O labirinto político espanhol desperta já há longo tempo a minha inquietação. A nossa convivência ibérica passa muito pelas saídas para o impasse em que a Espanha se encontra e até questões vitais para as nossas condições de vida como a questão dos rios que nascem em Espanha e chegam ao mar em Portugal dependerão dessas saídas. Não espanta por isso que essa matéria ocupe presentemente um lugar central nas minhas leituras.)

O labirinto espanhol podia ter sido também eventualmente nosso acaso os Filipes não tivessem abandonado a ideia de fazer de Lisboa a capital, optando pela estrela centralizadora a partir de Madrid. Mas apesar da nossa soberania e independência isso não significa que o labirinto dos vizinhos do lado não seja também indiretamente algo que deveríamos seguir mais atentamente. Pela minha parte é o que faço já há longo tempo, sobretudo à medida que fui aprofundando contactos e reflexões com amigos espanhóis, galegos, alguns bascos e nos tempos de Pascual Maragall como líder catalão com alguns catalães.

Nestas coisas sempre optei por acompanhar quem sabe e quem me parece capaz de investigação e reflexão sérias, sobretudo com poder de distanciamento da tensão política que vai cavando fossos e pontes desfeitas entre vários quadrantes do pensamento espanhol.

Há dias chegou-me às mãos, sugerido por uma notícia publicada creio que no El Mundo, uma obra recente de um catedrático de História Contemporânea na Universidade de Santiago de Compostela, Xosé M. Núñez Seixas que tenho nestes tempos mais recentes utilizado para tentar compreender a história do impasse em que a Espanha está mergulhada, não imagino por quanto tempo. A obra chama-se SUSPIROS DE ESPAÑA – El Nacionalismo español 1808-2018, editada pela CRÍTICA, ligada ao grupo PLANETA.

É provável que nos próximos tempos recorra frequentemente aos seus ensinamentos, limitando-me por hoje a focar-me num pequeno excerto, sábio nas suas implicações:

“(…) A definição de Espanha como nação de nações, onde apenas uma nação possuía essa categoria (Espanha) e as outras, ao serem desprovidas de soberania, não eram nações, mas apenas comunidades culturais, fracassou no seu objetivo de converter-se num elemento conciliador de diversas lealdades territoriais. Tão pouco o patriotismo constitucional funcionou como um guarda-chuva teórico que podia integrar a ampla pluralidade de pertenças e identidades nacionais e etnoterritoriais que coexistiram na Espanha democrática. Ambas as fórmulas estiveram longe de gerar adesões emocionais no espectro político da esquerda espanhola. Por um lado, subsistiram posições que partilhavam traços remanescentes de um jacobinismo tendencial, e inclusivamente alguns atributos classificáveis como essencialistas. Segundo os partidários desta corrente, a Espanha, como realidade histórica e cultural consolidada como facto objetivo ao longo de séculos e muito antes do pacto constitucional e dos alvores da Idade Contemporânea, necessitaria de um forte patriotismo identificado com o seu estado central para alcançar a definitiva regeneração e europeização do seu corpo social. O patriotismo, como defendia o socialista basco Enrique Múgica Herzog em 1977, representaria o cimento social necessário para sustentar a legitimidade e o caráter efetivo do Estado na sua função reformadora.
Por outro lado, os partidos catalães de esquerda irmanados com os seus homólogos espanhóis – o Partido Socialista da Catalunha pelo menos desde 1999, assim como a coligação ecossocialista e pós-comunista da Iniciativa per Catalunya, reivindicaram, embora com intensidade variável, que a Espanha era um Estado multinacional. (…) O antigo dirigente máximo do PSC e presidente da Generalitat da Catalunha entre 2000 e 2006, Pascual Maragall, afirmou em repetidas ocasiões que a Espanha não tinha uma história “única”, mas antes uma “história comum” forjada pela coexistência de identidades e territórios plurais ao longo do tempo o que justificaria a sua vontade de pertencer a uma mesma comunidade política a partir do momento em que a hegemonia castelhana fosse uma coisa do passado.”

O problema por vezes ignorado é que a tal Espanha plurinacional está em parte presente na Constituição espanhola como uma nação de nações e regiões. Mas daí a considerar que a Constituição assume a pluralidade de nações em igualdade de condições sem a ideia da Espanha abrangente e integradora das restantes vai uma grande distância.

O labirinto anda por aí e a atual composição do Congresso de Deputados após as eleições de domingo ainda exacerba o problema.

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