sexta-feira, 29 de novembro de 2019

PARA O FIM-DE-SEMANA (II)



(Será que começo a ficar mergulhado no saudosismo? Duas breves referências para o fim-de-semana carenciados de guelras para nos acomodarmos a tamanha percentagem de humidade, ambas trabalhando ilusoriamente a não erosão do tempo. Imaginem as pontes que pretendo estabelecer: Leonard Cohen, Spielberg e o incrível E.T.)

Comecemos por Cohen. Thanks for the dance é um disco póstumo, estou convencido que marcado por um gigantesco e aturado trabalho de engenharia e de laboratório, produzido pelo seu filho Adam Cohen sobre materiais que Leonard deixara e que são agora retrabalhados com minúcia e profissionalismo.

Já o ouvi repetidas vezes e há uma ambiência que se liberta daquelas notas e palavras enunciadas pelo vozeirão de Cohen que nos reconstrói uma atmosfera de passado que queremos, em vão, reviver como um regresso ao nosso próprio passado de uma época de sonhos, esperanças, em que tudo parecia fácil, à qual a musicalidade e as harmonias de Leonard proporcionavam a identificação ideal. Dá para pensar como é que um trabalho de engenharia de reconstituição e de devolução do passado nos consegue manter num nível de perceções afetivas que estão muito para além da perfeição da tecnologia. O disco é naturalmente um complemento do também recente documentário Marianne e Leonard.

A segunda referência é um produto do marketing televisivo criado pelo canal Xfinity da NBC americana. Trata-se de um pequeno filme publicitário (link aqui) que reúne 37 anos depois o E.T. de Spielberg e o jovem Elliot (Drew Barrymore). Todos recordamos a mítica cena de despedida do E.T. e de Elliot, cena em torno da qual se criou a ideia de que Spielberg poderia regressar com o retomar dessa cena e que o cineasta americano resistiu sempre a concretizar. Essa recusa de Spielberg ajudou a prolongar no tempo a magia daquela cena, que em muitos de nós provocou a pequena lágrima da despedida.

Agora, 37 anos depois, com Elliot adulto e dois filhos que surgem obviamente muito parecidos com o Elliot de então e sua irmã, temos o regresso e o reencontro, revelando em meu entender como foi sábia a decisão de Spielberg de rejeitar segundas edições da magia daquele filme.

Bom fim de semana.

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