(Será que começo a
ficar mergulhado no saudosismo? Duas breves referências para o fim-de-semana
carenciados de guelras para nos acomodarmos a tamanha percentagem de humidade,
ambas trabalhando ilusoriamente a não erosão do tempo. Imaginem as pontes que pretendo estabelecer: Leonard Cohen, Spielberg e o
incrível E.T.)
Comecemos por Cohen. Thanks for the dance é um
disco póstumo, estou convencido que marcado por um gigantesco e aturado
trabalho de engenharia e de laboratório, produzido pelo seu filho Adam Cohen
sobre materiais que Leonard deixara e que são agora retrabalhados com minúcia e
profissionalismo.
Já o
ouvi repetidas vezes e há uma ambiência que se liberta daquelas notas e palavras
enunciadas pelo vozeirão de Cohen que nos reconstrói uma atmosfera de passado
que queremos, em vão, reviver como um regresso ao nosso próprio passado de uma
época de sonhos, esperanças, em que tudo parecia fácil, à qual a musicalidade e
as harmonias de Leonard proporcionavam a identificação ideal. Dá para pensar
como é que um trabalho de engenharia de reconstituição e de devolução do
passado nos consegue manter num nível de perceções afetivas que estão muito
para além da perfeição da tecnologia. O disco é naturalmente um complemento do
também recente documentário Marianne e Leonard.
A
segunda referência é um produto do marketing televisivo criado pelo canal
Xfinity da NBC americana. Trata-se de um pequeno filme publicitário (link aqui) que reúne
37 anos depois o E.T. de Spielberg e o jovem Elliot (Drew Barrymore). Todos
recordamos a mítica cena de despedida do E.T. e de Elliot, cena em torno da
qual se criou a ideia de que Spielberg poderia regressar com o retomar dessa
cena e que o cineasta americano resistiu sempre a concretizar. Essa recusa de
Spielberg ajudou a prolongar no tempo a magia daquela cena, que em muitos de
nós provocou a pequena lágrima da despedida.
Agora,
37 anos depois, com Elliot adulto e dois filhos que surgem obviamente muito
parecidos com o Elliot de então e sua irmã, temos o regresso e o reencontro,
revelando em meu entender como foi sábia a decisão de Spielberg de rejeitar
segundas edições da magia daquele filme.
Bom
fim de semana.
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