(Óbidos)
(Todos os amantes
adictos de livros, como eu, têm as suas atmosferas livreiras preferidas e tendem a lamentar a
morte de mais uma qualquer livraria, sobretudo quando a “falecida” fazia parte
dessas nossas atmosferas. Essas lamentações tendem a ser regra
geral muito impressivas, já que não temos acesso em Portugal a um registo
sistemático de óbitos e nascimentos de livrarias. O El País de hoje traz-me a surpresa, que já
confirmei, de que em Espanha existe um Observatorio de Libreria . Surpreendente.)
Ainda
hoje, em Vigo, busquei em vão as memórias de duas livrarias que visitava
religiosamente, regra geral em busca de alguns livros de economia, de distribuição
mexicana que tinha uma grande tradição de tradução de algumas obras de
referência. Já não existem e, regra geral, tendo a cair na Casa del Libro, uma
grande livraria ao estilo de algumas grandes unidades inglesas e americanas,
embora sem aquela ambiência das cafeterias inseridas na atmosfera livreira.
Buscava uma obra recente do historiador galego Ramón Villares, Una Nación entre dos Mundos (Pasado&Presente) e uma coletânea póstuma do
meu ídolo Manuel Vásquez Montalbán, La Mirada
Inconformista – 40 años de periodismo, plácer, revuelta y humor (Random
House). Encontrei. Nem sempre as grandes unidades são funestas.
Entretanto,
o El País de hoje alerta-me para uma curiosidade. Em Espanha, elabora-se e
publica-se um relatório periódico sobre o estado das livrarias, a cargo de uma
iniciativa conjunta da CEGAL (Confederação Espanhola de Grémios e Associações
de Livreiros), do Ministério da Cultura Espanhol e da Faculdade de Economia y
Empresa da Universidade de Zaragoza, designada de Observatorio de Libreria.
Uma
boa iniciativa, com um informe periódico. A onda dos observatórios também terá passado
por Espanha mas pelo menos neste caso há resultados. E assim fiquei a saber
que, apesar de em Espanha, ser cada vez mais frequente a transformação de muitas
livrarias em locais de reunião e de centros de difusão cultural, prossegue o
desaparecimento das livrarias mais pequenas e a queda substancial de receitas.
O informe relativo a 2019 (link aqui) conclui que cerca de metade das 3. 556 livrarias independentes
(foi analisada uma amostra de 1.204) aufere receitas anuais inferiores a 90.000
€,
valor que os economistas da Universidade de Zaragoza consideram uma espécie de
limiar de sobrevivência. Curiosamente, o informe regista que cerca de 11% das
vendas de tais livrarias são concretizadas através de serviços internet, numa
tentativa de aguentar a pressão Amazon e dos serviços digitais das grandes Casa
del Libro, FNAC ou El Corte Inglés.
Os
amantes adictos de livros são gente contraditória, preferindo muitas vezes o
objeto à atmosfera da pequena dimensão, como hoje o fiz na Casa del Libro, com
o fito em dois livros específicos. Mas animo sempre que possível a “minha”
livraria de bairro, Velhotes, a 200 metros de minha casa, deixando-me
surpreender e valorando o esforço dos responsáveis por se especializar por exemplo
em livros infantis (recomendo regra geral o stock muito diversificado), muitas
vezes animado por um trabalho regular de mostra expositiva de ilustrações de
livros infantis, que são uma excelente maneira de decorar quartos de crianças.
Não é
preciso ter o patine de uma Lello no Porto ou de uma Bertrand em Lisboa para se
gerar uma atmosfera livreira que convença o amante adicto.
Tenho
sempre sobre estas coisas uma perspetiva aberta e pronta a ser surpreendida.
Alguém imaginaria que o Vynil resistiria quando já para os meus filhos comprar
um CD é assim uma aberração desnecessária?
Para já
vou fazendo o que posso para que a Velhotes se aguente, nem que seja com os
vouchers dos manuais escolares gratuitos e no início das aulas seja praticamente
impossível comprar um livro sobrepondo-se à fila dos encarregados de educação.
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