terça-feira, 5 de abril de 2022

A BARBÁRIE AQUI TÃO PERTO

A revelação do modo cruel e hediondo como os soldados russos abandonaram a cidade de Bucha constituiu-se num salto qualitativo em relação à cada vez mais indesmentível natureza criminosa do regime russo e do seu principal responsável. Matéria sobre a qual a larga maioria da opinião pública democrática à escala mundial já não tem qualquer espécie de dúvida, forçada como está a assistir com profundo desespero à impotência de uma ordem internacional cujas regras podem ser brutalmente desrespeitadas sem que de tal resultem consequências efetivas e radicais. Assim, o período da História Contemporânea em que vivemos será seguramente de tipo intercalar, correspondendo a uma transição mais ou menos duradoura para uma desejada emergência de um “mundo melhor”; não obstante essa transição poder ser acompanhada por cúmulos de violência tão insuportáveis que mais parecem apontar para destruições absolutamente terminais. É neste quadro que Zelenski tem vindo a denunciar corajosamente as atrocidades cometidas pelo invasor (“genocídio”, diz ele), gritando também angustiadamente por auxílios mais eficazes junto de uma comunidade internacional que resiste em assumir com a necessária determinação e frontalidade o que importa ser feito (bem a propósito, Teresa de Sousa perguntava no “Público” de Domingo “De que é que a Europa está à espera?”). A esperança, que dizem nunca dever morrer, só pode ser a de estarmos à beira, ou pelo menos perto, de um qualquer momento assinalável de viragem ― mesmo que não se vislumbrem jeitos disso...


(Corinne Rey, “Coco”, https://www.liberation.fr)

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