(Para mim, a música, sobretudo a clássica, tem uma relação íntima e indissociável com os estados de alma. Este princípio tem aplicação difícil quando os CD e vinys se amontoam e a diversidade dos estados de alma não acompanha. Com a Páscoa aí à porta e a possibilidade da família estar toda reunida, filhos, noras e netos juntos, o que não é assim tão frequente nesta geografia difícil do norte-sul, impõe-se que na antecâmara do evento e no sol que entra pela varanda ampla do escritório irrompa a música de Mozart. A edição recentíssima da integral das sonatas para piano de Mozart segundo a versão da Grande Senhora que é a russa (georgiana)-austríaca Elisabeth Leonskaja preenche o critério e celebra a alegria pascal.
Sim, é verdade que Schubert, sinfonias e sonatas para piano, ocupa um lugar especial em alguns dos meus estados de alma mais frequentes. Foi Schubert que me conduziu a Elisabeth Leonskaja num concerto de maio de 2013 na Gulbenkian. Mas a Páscoa e a junção familiar que ela vai este ano proporcionar sugerem mais a alegria estrutural de Mozart e das suas sonatas para piano. A Grande Senhora georgiano (Tbilissi)-vienense, pelo menos a partir de 1978, acaba de editar na Warner Classics a integral das sonatas para piano de Mozart, seis CD que constituirão a minha inspiração musical para estes dias.
Bem sei que estou mergulhado numa espiral viciosa suscitada pela debilidade do mercado discográfico em Portugal. As discotecas especializadas em música clássica andam pelas ruas da amargura, a FNAC é um arremedo de discoteca (houve tempos em que pelo menos as novidades anunciadas e revistas pela Diapason, pela Grammophone ou pela revista da BBC eram colocadas em stock, onde isso vai) e o recurso às importações online é inevitável. Encomendar por via da Presto Classical, irrepreensível como sempre, pode trazer surpresas alfandegárias desagradáveis, com mais 10 ou 12 euros em cima e um desalfandegamento que nem é difícil tecnicamente de concretizar mas que implica sempre tempo e extra-custos. Por isso, embora não seja de bom tom e lá muito coerente estar a financiar as cretinas idas ao espaço do Bezos, a Amazon Espanha tem hoje um serviço de distribuição notável de rapidez e precisão. É tão eficaz que é um perigo para a bolsa e para as tentações do consumo.
Mas os seis CD valem a pena, são do melhor que tenho ouvido em termos de Mozart. A presença da Elizabeth Leonskaja em palco é de uma sobriedade impressionante, transportando uma sensação de paz que dificilmente se esquece. Não a ouvi ao vivo tocar Mozart mas Schubert e por isso estava curioso. A Diapason e a BBC asseguraram-me que valia a pena e a logística da Amazon fez o resto. Uma delícia.
Feliz Páscoa para todos.
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