domingo, 10 de abril de 2022

SEGUNDAS LINHAS E MAÇARICOS

O debate do Programa do Governo na Assembleia da República foi verdadeiramente deprimente a quase todos os títulos, pondo a nu quanto a qualidade da classe política (e dos principais protagonistas) vai gritantemente diminuindo. Que chocante contraste existe entre o que vimos e ouvimos naquele dia e meio e outros momentos, mais lá atrás no tempo, em que por ali passavam política da boa e/ou ideias consolidadas!

 

O destino deste comentário é praticamente generalizado mas, ainda assim, há três referências especiais a salientar negativamente: (i) o Governo, cujos discursos de abertura por António Costa e de encerramento por Mariana Vieira da Silva deixaram “a evidente sensação de que este país está condenado a andar devagarinho” (cito Manuel Carvalho), com esta última a repetir sem chama nem ponta de inovação o estilo e as palavras do chefe; (ii) a liderança do grupo parlamentar do partido detentor de maioria absoluta, com o discurso final de Eurico Brilhante Dias a salientar-se como tendo sido provavelmente o pior de sempre em contexto semelhante ao longo de quase cinco décadas; (iii) o desbragado populismo do Chega, agora o terceiro maior partido do nosso Parlamento, ressaltando um André Ventura a mostrar a sua completa falta de escrúpulos democráticos e os seus apaniguados a sua completa falta de mínimos olímpicos para ocupação de um lugar naquele hemiciclo.

 

Tudo considerado, incluindo também os esgotados PCP e BE, os atordoados representantes do PSD e os ainda aprendizes deputados da Iniciativa Liberal, assistimos a duas sessões paupérrimas e certamente capazes de envergonhar quaisquer cidadãos dotados de níveis adequados de exigência cívico-política, apenas tendo sobrado a exceção confirmadora da regra proveniente daquele momento inspirado em que Augusto Santos Silva puxou do regimento e dos seus galões para pôr, sobriamente, os pontos no is (“não há atribuições coletivas de culpa em Portugal”) perante a invencionice provocadora de Ventura.

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