domingo, 3 de abril de 2022

O CDS-PP VOLTARÁ?

Vou acompanhando a política nacional desde há décadas e considero-me, por isso, razoavelmente bem informado. É nesta conformidade que devo dizer que não me recordo de qualquer coisa de especialmente relevante que devamos a Nuno Melo nas suas diversas encarnações políticas ao serviço do CDS-PP; ao invés, recordo múltiplas das suas manifestações de arrogância, das suas exibições de incompetência, das suas inconcebíveis fífias, das suas desarticuladas provocações. Nem mesmo enquanto deputado europeu lhe parece ser reconhecida alguma qualidade distintiva que não seja o modo como se foi aproveitando do cargo para fazer passar propaganda do foro pessoal ou partidário (encontra-se uma síntese ajustada no seu último e infeliz slogan de campanha, “Portugal. A Europa é aqui”), algumas vezes em termos bastante heterodoxos para os interesses nacionais.


Pois desta vez, após uma triste falsa partida que o deixou necessariamente embaraçado numa disputa perante o infantil correligionário que o acabaria por vencer (Francisco Rodrigues dos Santos), Nuno Melo surgiu de fato macaco ao vir a terreiro assumindo-se frontalmente com vontade e energia para dar o melhor de si próprio no sentido de tentar reconstruir o seu partido ― um partido histórico e com pergaminhos adquiridos na democracia portuguesa, um partido que seria decerto útil e bem-vindo à política e ao Parlamento nacional. Merece, por isso, sorte na concretização da hercúlea tarefa que tem pela frente (recorrendo a argumentos assentes em ocupações alternativas de espaço político e/ou em irrecuperáveis elementos de modernidade, a larga maioria da opinião pública já tem vindo a dar por descontada a morte do CDS-PP como bem ilustra a vinheta de Luís Afonso abaixo), sendo que logrou neste fim de semana uma significativa mediatização por via dos apoios de Paulo Portas e Manuel Monteiro, de um resultado expressivo na votação do Congresso de Guimarães que o elegeu e da relativa unidade que conseguiu demonstrar através do “regresso” de várias caras conhecidas à militância e à direção do partido. Sem prejuízo do facto de as imagens televisivas não darem conta de grande entusiasmo nas hostes e de a sua verve discursiva não ser particularmente mobilizadora nem brilhante, ficando bem aquém de outros tribunos bem mais eloquentes e espessos que o partido conheceu... porque tal não será restrição de monta se a disponibilidade e a convicção de Nuno Melo forem tão sinceras quanto ele quis proclamar e assegurar.


(Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt)

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