Os resultados da primeira volta das presidenciais francesas, realizada no Domingo, situaram-se largamente dentro das expectativas dos principais analistas e especialistas. Em boa verdade, foram até ligeiramente melhores do que as piores previsões anti-extremistas ao darem a Emmanuel Macron um ganho relativo de votação face ao escrutínio de há cinco anos e ao conterem a expressão mais direta de Marine Le Pen em torno dos 23% (embora haja com contar aqui com a rival chegada de Éric Zemmour ao grupo). E, não obstante esse dado determinante, os democratas e europeístas, à esquerda e à direita, não cessaram desde então de voltar a uma “vaca fria” equivalente à de ocasiões anteriores (como a da última eleição, por exemplo, para já não falar da sua precedente ou daquela em que o velho pai de Marine foi protagonista), centrada nos seus generalizados temores associados à hipótese de uma vitória da candidata da Frente Nacional. Interrogo-me, então: existirão razões suficientemente objetivas para isso?
Reunindo sumariamente alguns elementos suscetíveis de permitirem uma brevíssima e muito limitada análise empírica da sociologia eleitoral em presença, diria que a resposta correta talvez tenda para o sim. Senão vejamos, recorrendo aos quadros e mapa abaixo, bem evidenciadores das dificuldades de audição de Macron junto dos mais jovens (maioritariamente apoiantes de Mélenchon) e dos ativos menos idosos (maioritariamente apoiantes de Le Pen) e de que o atual presidente apenas apresenta uma força dominante junto dos quadros superiores (ao invés de uma maior presença de Le Pen junto das restantes categorias socioprofissionais); ao que acresce ainda a já vasta implantação geográfica de Le Pen, sobretudo a Norte e a Sul e a muito significativa presença do candidato mais votado da esquerda (o sempre imprevisível e também tendencialmente populista Mélenchon) em cidades relevantes (como Lille e Marselha, mas também Lyon e Paris), por complemento a uma maior força de Le Pen em cidades médias ou no meio rural.
Ou seja: um jogo bastante espalhado em que Le Pen foi conseguindo adquirir um estatuto de maior credibilidade, em que Macron se esqueceu da esquerda que o ajudou a eleger durante todo o seu mandato (uma alusão que, muito simbolicamente, o “Libération” de hoje chama a capa) e em que um personagem como Mélenchon adquire um estranho estatuto de faiseur de roi (contanto que os candidatos sejam realmente importantes na definição dos seus votantes quando já estão fora da corrida, o que não deixa de ser duvidoso e seguramente não totalmente verosímil). Mas, tudo considerado e devidamente descontado, os erros acumulados por Macron e a irritação que ele por vezes suscita não são minimamente de molde a que possamos deixar de puxar pela sua reeleição.
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