quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A FRANÇA JÁ ESTÁ QUASE!

(cartoon de Corinne Rey, “Coco”, https://www.liberation.fr) 

Que a História não se repete é uma afirmação já tão vulgarizada que peca pelo que deixa por dizer ― porque se, de facto, não se repete, o seu conhecimento e consideração ensina e ajuda a refletir e a retirar consequências para efeitos presentes. Vem tudo isto a propósito da atual situação política em França, onde o presidente Macron acabou ontem de fazer aprovar, com o apoio da extrema-direita, uma lei de imigração bastante mais dura (para dizer o mínimo!) e alegadamente mais capaz de suster o passo firme que parece ir conduzir Marine Le Pen ao poder nas próximas presidenciais; a interrogação é a mesma de sempre, a de saber se os extremismos radicais se combatem essencialmente com a defesa inabalável dos princípios democráticos ou se é necessário fazer algumas cedências na aplicação destes para que os ditos extremismos sejam de algum modo esvaziados e as forças democráticas possam retomar a iniciativa. Acima, as reações mais visíveis do “Libération” destes últimos dias, exprimindo uma posição clara e muito crítica numa matéria em que as fissuras são já evidentes no interior da chamada macronie (incluindo a demissão do ministro da Saúde).

 

Entretanto, não foi há muitos dias que o “Le Monde” publicou os resultados de uma grande sondagem anual que evidenciava de forma clara a “normalização” por parte da maioria dos franceses do partido de Le Pen e a sua consequente leitura como um partido com natural possibilidade de ser parte de um governo do país (ver infografia abaixo). Resultado de uma tendência que se vem paulatinamente afirmando desde há anos, décadas mesmo, o certo é que o momento de viragem parece ter chegado. Neste quadro, a opção de Macron deve ser basicamente lida como uma traição aos valores democráticos, como um sinal da sua morte anunciada ou apenas como uma resposta realista aos sinais que se lhe apresentam? Veremos, sendo que a única certeza que podemos ter é que tudo por lá evoluirá em sentidos cada vez mais diversos e inéditos nos tempos que estão para vir. Sendo ainda que a União Europeia também já vai embarcando numa linha de atuação que é fundamentalmente de teor semelhante.

(a partir de http://lemonde.fr)

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