sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

QUE CONFUSO EU ESTOU!

Não sei se quem me lê partilha da minha perplexidade, aliás em crescendo, quanto ao que vai ocorrendo na candidatura a secretário-geral do Partido Socialista, especialmente no que toca às declarações de apoio ou à falta delas (mas também no domínio das propostas). Confesso-me algo perdido, de facto. Explico-me, de um modo necessariamente breve, sucinto e não exaustivo, sempre tendo presente a centralidade do dado nada irrelevante de Pedro Nuno Santos (PNS) ser quase unanimemente apresentado como o virtual vencedor da contenda.

 

Achava eu que o patrocínio de António Costa (AC) a Carlos César (CC) como presidente do PS significava a escolha de um leal companheiro, capaz de fazer (como aconteceu amiúde) o papel do polícia bom ou do polícia mau nas circunstâncias convenientes. Afinal, CC acabou hoje de declarar o seu apoio a PNS naquela disputa, utilizando mesmo termos pouco curiais para com o seu camarada José Luís Carneiro (“um líder distintivo e não um apêndice”), sendo certo que PNS será com certeza o candidato que AC menos gostaria que lhe sucedesse. Cada um dirá em sua defesa que tem o direito a pensar pela sua cabeça, mas o meu feeling não deixa de ser o de que há valores filiais a escreverem mais na dita carta.

 

Não voltando ao estranho tema, aliás já aflorado neste espaço, da luz que Francisco Assis e Álvaro Beleza, nas suas diferenças de ordem pessoal, viram repentinamente a emanar de PNS (e, com ele, da “geringonça” como solução nacional na conjuntura do nosso próximo futuro), outros apoios se me revelam como dificilmente explicáveis à luz da prática conhecida dos seus protagonistas (desconheço, obviamente, matérias do foro das zangas íntimas ou dos vícios e negócios privados). Casos desse tipo são, certamente por razões diferentes, o de alguns autarcas (como Eduardo Vítor Rodrigues, sempre próximo de tudo quanto surgisse como misericordioso e assistencialista, Luísa Salgueiro, a presidente da Associação Nacional de Municípios que Costa elegeu e protegeu, ou Rui Santos, o vila-realense a quem Costa permitiu uma espécie de chefia de contornos duvidosos da sub-região do Douro) ou o de alguns governantes (como João Costa, que foi a cara da resistência governativa contra a luta dos professores, Manuel Pizarro, consabidamente um rival portuense de Carneiro mas também um recuperado por Costa que está tapado no Porto pelo “pedronunista” de sempre que é Tiago Barbosa Ribeiro, ou a inefável Ana Abrunhosa, cujo entusiasmo público com PNS é inversamente proporcional à sua militância inexistente no PS e contrasta com a sensatez dos demais ministros independentes).

 

Acresce a existência de silêncios excessivamente ruidosos. Como são os das “meninas” de Costa, Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes, cujas responsabilidades destes anos não são compatíveis com a sua disfarçada postura de neutralidade (no caso de Mariana, o apoio de José António Vieira da Silva a JLC pode aparecer como uma proxy, mas naturalmente não dispensa uma confirmação assumida pela própria) e contrastam com as claras tomadas de posição dos restantes protocandidatos à sucessão (Fernando Medina em relação a JLC e Duarte Cordeiro em relação ao seu chefe de sempre, PNS). E não falarei ainda dos eurodeputados em exercício, na sua larga maioria calados que nem ratos, nem do açoriano presidente do Comité das Regiões Vasco Cordeiro; nem mesmo do inaudito alheamento de João Galamba em relação à matéria.

 

Poderia certamente prosseguir para outras direções, até também para aquelas que mais reveladoras seriam do estado a que chegou o funcionamento dos partidos e suas lógicas aparelhísticas e já não tanto das movimentações que melhor caraterizam o género humano, marcadas por múltiplas manifestações de ambição e vaidade pessoal (as tais intimidades não frequentáveis da vida partidária, na palavra de Sousa Tavares, algo que também podemos designar por capacidade de cálculo e sentido de oportunidade, vulgo “mercearia”). Disso me dispenso, porém, por tal me parecer já redundante, abrindo uma última exceção para referir uma desilusão chamada Sérgio Sousa Pinto, alguém cuja independência aprecio e que acabo de saber apoiante de PNS em nome de um fascínio pela fantástica descoberta de uma coerência de convicções no posicionamento do dito.

 

Como tem de ser, limito-me assim a aguardar o veredito, previsto para o próximo dia 16, não sem confidenciar alguma expectativa quanto a um hipotético surgimento público, mais ou menos explicito, de outras e decisivas pronúncias. Sem o que desde já aqui me declaro capaz de vaticinar o futuro próximo da política portuguesa (com a ressalva do erro que possa decorrer da minha deficiente perceção analítica): se nada vier contrariar a lógica decorrente do trabalho acumulado, PNS ganhará talvez o Partido mas não conseguirá nunca ganhar o País!

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